Um raio X da saúde
dos brasileiros
Pesquisa inédita do Ministério da Saúde revela
que os brasileiros sabem menos do que precisam
sobre as causas das doenças crônicas
Adriana Dias Lopes, Anna Paula Buchalla e Naiara Magalhães
VEJA TAMBÉM Quadro: Elas se cuidam mais
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Quando o assunto é o cuidado com a saúde, os brasileiros vão mal, obrigado: a maioria tem hábitos alimentares pouco saudáveis e pratica menos esporte do que deveria, quase 60% estão acima do peso e 17,5% bebem de forma abusiva. Os dados são do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, o Vigitel, um dos mais completos levantamentos sobre os hábitos de saúde da população já feitos no país. Conduzida pelo Ministério da Saúde, a pesquisa ouviu, entre julho e dezembro do ano passado, 54 000 homens e mulheres moradores de 26 capitais brasileiras, além do Distrito Federal. O objetivo do trabalho é monitorar hábitos – alimentares e de comportamento – que contribuem para o aparecimento de doenças como diabetes, hipertensão, enfisema pulmonar e câncer, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis, responsáveis por dois terços das mortes no país. "Certos costumes que adotamos podem funcionar como fator de proteção ou de risco para o desenvolvimento desse grupo de doenças", afirma Ruy Laurenti, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. "Mas grande parte dos brasileiros ainda subestima esse fato."
Os homens subestimam mais do que as mulheres, como aponta o Vigitel. No que diz respeito aos comportamentos relacionados à prevenção de doenças, as mulheres se saem melhor do que os homens em onze de dezesseis itens pesquisados: elas controlam melhor o peso, comem mais frutas e menos gorduras e protegem-se melhor do sol. Os homens só ganham delas no que diz respeito à decisão de parar de fumar (25,8% dos entrevistados já abandonaram o vício, enquanto apenas 18,6% das mulheres ouvidas fizeram o mesmo) e à prática de exercícios (19,3% dos homens dizem fazer alguma atividade física regularmente contra 12,3% das mulheres – veja o quadro). O fato de o Vigitel apontar a existência de um menor número de homens com diagnóstico de diabetes, hipertensão ou taxas elevadas de colesterol e triglicérides é relativizado por especialistas. Para eles, o resultado não indica necessariamente que a incidência dessas doenças seja mais baixa entre os homens. "É provável que seja conseqüência do fato de as mulheres fazerem consultas médicas com mais freqüência e, portanto, conhecerem melhor seus problemas", diz o cardiologista Ibraim Masciarelli, do Hospital do Coração, em São Paulo.
O Vigitel foi inspirado em um modelo de pesquisa adotado pelo governo dos Estados Unidos desde 1984 para monitorar os fatores de risco que afetam a saúde dos americanos. No Brasil, ele foi aplicado pela primeira vez em 2006. "É uma ferramenta essencial para corrigir ou aprofundar as políticas de saúde", diz o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. A comparação dos dados do Vigitel 2007 com a versão 2006 da pesquisa mostra que, embora ainda estejam distantes do ideal, os costumes dos brasileiros relacionados à prevenção de doenças vêm apresentando pequenas melhoras. O número de pessoas que se alimentam de frutas regularmente, por exemplo – hábito que ajuda a evitar a ocorrência de doenças cardiovasculares e de diversos tipos de câncer –, passou de 44% para 57%. Já a porcentagem de entrevistados que consomem carnes excessivamente gordurosas (prática associada ao aumento de doenças cardíacas, hipertensão, diabetes e obesidade) diminuiu de 39,2% para 32,8%. Confrontados com pesquisas anteriores, os dados do Vigitel também sinalizam uma queda na quantidade de brasileiros fumantes. Em 2003, levantamento do Instituto Nacional de Câncer e da Secretaria de Vigilância em Saúde, feito em dezoito capitais, mostrava que 20% da população fumava. Hoje, de acordo com o Vigitel, esse número é de 16,4% – o que coloca o Brasil entre os países com menor incidência de tabagismo. A porcentagem de brasileiros que fumam chega a ser inferior à dos americanos, por exemplo, ainda que nos Estados Unidos as campanhas antifumo sejam mais antigas e agressivas do que as daqui. Nas páginas seguintes, VEJA detalha os resultados da pesquisa do Ministério da Saúde, analisa como os brasileiros se comportam diante de doze temas relacionados a doenças ou à sua prevenção e revela as conseqüências desses hábitos para a saúde.
Vício em queda |
Esta é, sem dúvida, uma das melhores notícias do levantamento do Ministério da Saúde. Com um índice de 16,4% de fumantes, o Brasil está entre os países com menor incidência de tabagismo do mundo. Nos Estados Unidos, onde as campanhas antifumo são mais antigas e agressivas do que as daqui, os fumantes somam cerca de 20% da população adulta. A queda no consumo brasileiro de cigarros começou a se desenhar no início dos anos 90, com as campanhas antitabagistas e as leis de restrição ao fumo. Na ocasião, 35% dos brasileiros tinham o hábito de fumar.
Em sete capitais, o número de fumantes supera a média nacional. Porto Alegre é a líder do ranking. E o índice alto é puxado pelo vício feminino. A capital gaúcha é a que registra o maior porcentual de mulheres fumantes – 20,1%. As gaúchas ilustram com perfeição a mudança no perfil dos tabagistas desde o início da ofensiva anticigarro. Nas regiões brasileiras mais desenvolvidas, tal qual acontece nos países de Primeiro Mundo, a tendência é de que o sexo feminino ultrapasse o masculino nas baforadas. "Com a diminuição do consumo de cigarros pelos homens, a indústria do tabaco passou a investir pesado no público feminino, especialmente nas jovens", diz Liz Maria de Almeida, gerente de epidemiologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos trinta anos a quantidade de fumantes masculinos caiu pela metade e a de mulheres fumantes aumentou, em média, 25%.
A grande preocupação é que elas se iniciam cedo no vício. Segundo uma pesquisa realizada recentemente pelo Inca em Porto Alegre, cerca de 55% das garotas entre 13 e 15 anos fumaram pelo menos uma vez nos trinta dias anteriores à entrevista. Quanto mais cedo uma pessoa começar a fumar, maiores serão os danos para a sua saúde. O fumante que deu suas primeiras baforadas antes dos 15 anos, por exemplo, tem o risco de morte por câncer de pulmão aumentado em quatro vezes em relação a quem começou a fumar aos 25 anos. São necessários quinze anos para que um ex-fumante volte ao patamar de risco de doenças cardiovasculares de um não-fumante. Entre as mulheres, esses perigos são potencializados. Quando elas fumam, o risco de ansiedade e depressão é duas vezes maior do que entre os homens. O de infartos e derrames, quatro vezes. Segundo o levantamento do Ministério da Saúde, a maioria só abandonará o hábito entre os 45 e 54 anos. É muito tempo sob os efeitos nocivos da nicotina.
Bebida em alta
Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, o consumo de álcool tem aumentado nos países em desenvolvimento. É o caso do Brasil, onde não há praticamente controle sobre a indústria de bebidas alcoólicas. Segundo os especialistas, é preciso uma política pública para o álcool tão ofensiva quanto a do cigarro. "Um litro de pinga aqui custa menos do que 1 dólar", diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Nos países desenvolvidos, uma garrafa de destilado não sai por menos de 10 dólares." Além dos preços baixíssimos, no Brasil o marketing da indústria do álcool é muito agressivo e mira sobretudo os jovens. O levantamento do Ministério da Saúde confirma essa tendência. Os brasileiros que bebem exageradamente têm, em sua maioria, entre 18 e 24 anos.
Uma das principais preocupações é a tendência de aumento no abuso do álcool pelas mulheres jovens. Um estudo conduzido recentemente pela Unifesp revela que o consumo exagerado de álcool aumenta principalmente entre as meninas adolescentes. Elas já se equiparam aos meninos e três em cada dez bebem com freqüência. Quanto mais se bebe na juventude, maior será a propensão ao alcoolismo na idade adulta.
Quantidades moderadas de álcool, algo como dois copos de vinho por semana, trazem benefícios ao coração e ao sistema circulatório. Mais do que isso pode resultar em danos irreversíveis ao fígado. Há indícios de que o abuso de álcool pode lesionar o cérebro. Em excesso, a bebida está associada a danos nas regiões cerebrais ligadas à memória e ao aprendizado. De acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde do início dos anos 2000, o álcool mata mais do que o tabaco. "Ele lidera a lista dos fatores de risco para as doenças crônicas, seguido por excesso de peso, hipertensão e tabagismo", diz Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Alimentação
LEITE INTEGRAL
Bom, mas nem tanto
Embora a pesquisa do Ministério da Saúde mostre que 53,2% da população adulta brasileira toma leite regularmente, a quantidade ainda é insuficiente. O consumo per capita de leite no país, que é de cerca de 130 litros por ano, está abaixo do preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Isso significa que bebemos, em média, um copo por dia. Essa quantidade deveria ser três vezes maior. O leite é a principal fonte alimentar de cálcio. O mineral é um ingrediente essencial para um esqueleto forte, prevenindo a osteoporose. Ele é também rico em vitaminas A, D e magnésio. Além de tomar pouco leite, o brasileiro bebe o menos adequado à saúde, sobretudo em se tratando de adultos. O integral é rico em gordura saturada, a mais nociva ao organismo. O risco maior é para quem tem o colesterol alto. Para se ter uma idéia, a principal gordura do leite integral é o ácido mirístico, substância capaz de fazer o colesterol ruim, o LDL, subir às alturas.
O leite integral é indicado para bebês e crianças que se beneficiam da gordura durante a fase de crescimento. Para os adultos sem riscos de doenças cardiovasculares, ele pode ser consumido, desde que se reduza a ingestão de gorduras provenientes de outros alimentos, como queijos e carnes. Caso contrário, a melhor opção é o leite desnatado, menos gordo, mas com a mesma quantidade de cálcio.
REFRIGERANTE
No lugar do suco
Os brasileiros adoram refrigerante. Três em cada dez tomam a bebida não-dietética cinco ou mais dias da semana. Em 2007 foram consumidos no Brasil 14 bilhões de litros da bebida. Desse total, 91% referem-se aos refrigerantes tradicionais regulares e apenas 9% às versões adoçadas artificialmente. "Além do teor calórico alto, o grande problema dos refrigerantes é que eles costumam substituir os sucos de frutas, mais nutritivos e saudáveis", diz a nutricionista Ana Maria Lottenberg, do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Os principais consumidores de refrigerante no Brasil estão nas faixas etárias mais baixas, entre 18 e 24 anos. Um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, alerta: quando um jovem tem o hábito de tomar um copo de refrigerante por dia, corre quase duas vezes mais risco de se tornar um quarentão acima do peso do que o rapaz ou a moça sem esse costume. A realidade é ainda mais cruel com o sexo feminino. A probabilidade de uma mulher que bebe refrigerante diariamente vir a desenvolver o diabetes tipo 2 é 80% maior do que entre os homens.
FRUTAS E HORTALIÇAS
Cardápio pobre
Quase metade dos brasileiros consome frutas cinco ou mais dias na semana. Parece um número razoável, mas, quando se associam frutas a hortaliças nas quantidades ideais, esse índice cai para 17,7%. E o que isso significa? Que estão faltando nutrientes importantes na dieta dos brasileiros. Recentemente, um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, o Brazos Nutricional, identificou o que faltava no prato das mulheres, que consomem quase o dobro desses alimentos em relação aos homens. Havia deficiência de praticamente todas as vitaminas. Pelo menos 88% delas apresentavam carência de vitamina C. Presente em frutas e vegetais, essa vitamina é fundamental para a defesa do organismo, para a produção de colágeno e para a absorção de ferro. Cerca de 85% das entrevistadas tiveram consumo deficiente de betacaroteno, antioxidante que se converte em vitamina A. Cerca de 10% sofriam de deficiência de ferro, causa freqüente de anemias.
CARNES GORDUROSAS
Pingando gordura
Foto Xando Pereira |
A carne vermelha foi recentemente reabilitada pelos médicos e pelos nutricionistas. A volta do alimento ao cardápio deve-se, sobretudo, ao seu valor nutricional. A carne é rica em ferro, zinco e vitaminas, como a B12, fundamental para a memória e a cognição. Mas isso não é carta-branca para cometer excessos. Mais de 30% dos brasileiros têm o hábito de comer carne com gordura exposta. É um veneno para o coração. Cerca de 20% a 25% da composição da carne é gordura. Ou seja, mesmo quando se retira a capa de gordura da picanha, o prato ainda continua bastante gorduroso. O mesmo raciocínio vale para o frango com pele. E, aqui, com uma agravante: a pele da ave é rica em colesterol.
Atividade física
Falta ânimo
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O Brasil é um país de preguiçosos. Cerca de 30% dos adultos não se mexem para nada. Se têm de caminhar um quarteirão, pegam o carro. Se têm de subir um andar de escadas, tomam o elevador. O país com o menor índice de sedentarismo em todo o mundo é a Finlândia, com apenas 6% de inativos fisicamente. Isso mesmo: o grau de indolência dos brasileiros é cinco vezes maior do que o dos finlandeses. A situação é ainda mais vexatória quando se contabiliza o número de pessoas habituadas a algum esforço físico. Apenas 15,5% praticam exercícios conforme o preconizado –. no mínimo, meia hora diária, cinco vezes por semana. Não é novidade para ninguém que a prática regular de atividade física é um aliado e tanto da boa saúde. Mantém o metabolismo no ritmo, reduz os riscos de hipertensão, diabetes, vários tipos de câncer e protege o coração. A ginástica praticada com freqüência faz bem à alma. Recentemente, pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, publicaram um estudo com vítimas graves de depressão, comparando os efeitos dos exercícios aos de um determinado antidepressivo. Pois bem, eles descobriram que a ginástica pode ser tão útil quanto o remédio no controle de muitos desses pacientes.
Motivos para se exercitar não faltam. O que é preciso para convencer os brasileiros a sair do sofá? Mudar o estilo de vida é tarefa das mais árduas. E, quanto mais o tempo passa, menor é o ânimo para as mudanças.
De acordo com o pesquisador canadense Steven Bray, da Universidade McMaster, a primeira grande baixa na disposição para praticar uma atividade física se dá com o ingresso na faculdade. As demandas da vida acadêmica, segundo ele, são o principal motivo. E as desculpas para não suar continuam ao longo da vida adulta. Num momento é a mudança de trabalho. No outro, o casamento. Em seguida, a chegada dos filhos. "Recuperar ao menos um pouco da energia que tínhamos na infância pode tornar a vida bem mais saudável", escreveu o médico Sanjay Gupta recentemente num artigo para a revista americana Time.
Está tudo errado
Nada menos do que seis em cada dez brasileiros romperam o limite aceitável da balança. Ou seja, 42 milhões estão pelo menos 5 quilos acima do peso. O número é assustador e ao mesmo tempo revelador dos péssimos hábitos de homens e mulheres à mesa. Recentemente, um levantamento sobre os hábitos alimentares dos gordos brasileiros mostrou que, além de comerem muito, eles o fazem rápido demais. Conclusão: o estômago não tem tempo de transmitir a informação de saciedade ao sistema nervoso central e o sujeito continua a comer, comer, comer... Um processo de mastigação mais lento é essencial para que o cérebro receba a mensagem de que é hora de cruzar os talheres. O peso em excesso está diretamente associado ao sedentarismo, outro péssimo hábito da vida moderna. A matemática dos quilos em excesso é simples: quem consome mais calorias do que gasta engorda.
Conforme o levantamento do Ministério da Saúde, o contingente de gordos é maior entre as pessoas menos escolarizadas. Entre os que estão acima do peso, os homens e mulheres com menos de oito anos de estudo somam 47,1% do total. No grupo dos obesos, eles representam 14,9%. Os mais pobres engordam mais porque, com o aumento do poder aquisitivo e o maior acesso à comida, mas sem informações adequadas sobre saúde, eles passaram a ingerir uma quantidade enorme de carboidratos e gorduras, sobretudo de origem animal. O resultado é um só: corpos inflados. A epidemia de quilos em excesso é mundial. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 2 bilhões de pessoas estão acima do peso. Deles, 400 milhões são obesos. Em 2025, esses números devem saltar para 3 bilhões e 700 milhões, respectivamente. O acúmulo de tecido adiposo está associado às doenças crônicas mais comuns: o diabetes, os distúrbios cardiovasculares e uma série de cânceres, como os tumores malignos de mama. Pouco se avançará na prevenção de doenças enquanto não houver uma mudança radical de comportamento.
Prevenção ao câncer
PELE
Acima das expectativas
A revelação de que metade dos brasileiros tem o hábito de se proteger contra o sol foi recebida com entusiasmo pelos médicos. Nem as estimativas mais otimistas chegavam perto de um contingente tão grande de precavidos. Nos poucos levantamentos realizados no país sobre o assunto, esse índice raramente ultrapassa 30%.
A proteção contra a radiação ultravioleta é um hábito recente, do fim da década de 80, que, graças às campanhas de esclarecimento, ganha mais e mais força. Há, no entanto, um longo caminho a percorrer. Afinal, falta convencer a outra metade dos adultos brasileiros de que o bronzeado mais bonito é também o mais seguro.
A pesquisa do Ministério da Saúde avaliou o grau de proteção dos brasileiros em relação ao sol das 10 horas da manhã às 4 da tarde. Nesse período do dia, a radiação ultravioleta do tipo B (UVB) fica mais intensa. Os raios UVB são os que causam vermelhidão e podem levar ao câncer de pele, a neoplasia mais freqüente entre os brasileiros. Até o fim do ano, 120 000 brasileiros devem receber o diagnóstico da doença. A medida mais eficaz para barrar a radiação solar é o uso de fotoprotetores. Recomenda-se aplicar o filtro meia hora antes da exposição solar, o que garante a sua absorção pela pele. Além disso, deve-se besuntar o corpo com o produto a cada duas horas ou depois de entrar n’água.
MAMA
Parece, mas não é
À primeira vista, a notícia parece muito boa. De cada dez brasileiras entre 50 e 69 anos, oito já se submeteram à mamografia. É índice de Primeiro Mundo. Se o exame é a principal arma contra o câncer de mama, por que então o número de vítimas fatais da doença cresce no Brasil? Até o fim do ano, 10 000 brasileiras devem morrer vítimas do mal – um aumento de 20% nas taxas de mortalidade em relação ao início dos anos 90. O levantamento do Ministério da Saúde não aponta a periodicidade com que as brasileiras fazem uma mamografia. "A nossa experiência em consultório indica que, no Brasil, o exame tende a ser feito tardiamente e sem nenhuma regularidade", diz a mastologista Maria do Socorro Maciel, do Hospital do Câncer, em São Paulo. A chave da prevenção ao câncer de mama está na realização anual do exame a partir dos 40 anos. Nos Estados Unidos, 80% das americanas nessa faixa etária passam anualmente por uma mamografia. Lá, graças às medidas de prevenção, a mortalidade por câncer de mama caiu 10% na última década.
A maioria dos casos da doença no Brasil é descoberta quando ela está em estágio avançado. Nessas condições, as chances de cura giram em torno de 25%. Se, no entanto, o tumor é detectado em fase inicial, 90% das mulheres conseguem se livrar da doença. Apesar de todas as campanhas de alerta sobre o câncer de mama, um dos principais obstáculos para combatê-lo continua a ser a falta de informação sobre como preveni-lo. Pesquisas regionais indicam que ainda é alto o número de mulheres que desconhecem a importância da mamografia e não sabem fazer o auto-exame em casa. Conforme o relatório do Ministério da Saúde, o número de brasileiras com mais de doze anos de estudo submetidas à mamografia é 20% maior em relação às menos escolarizadas.
COLO DE ÚTERO
Tarde demais
O câncer de colo de útero é o segundo tumor feminino mais comum no Brasil, com 18 680 novos casos previstos para 2008. Nos Estados Unidos, ele aparece em 14º lugar no ranking dos cânceres mais freqüentes entre as mulheres. O abismo entre uma realidade e outra pode ser explicado por um equívoco no modo como as brasileiras se armam contra a doença. Elas tendem a se engajar numa rotina de prevenção tarde demais. O melhor exame contra esse tipo de tumor é o papanicolau, e ele deve ser repetido anualmente, depois da primeira relação sexual. No Brasil, porém, as mulheres mais jovens são as que menos se submetem ao exame. Com isso, as chances de detecção precoce do câncer caem drasticamente. "É uma pena, já que o papanicolau consegue descobrir a doença até dez anos antes de sua formação", diz o mastologista Luiz Henrique Gebrim, professor da Universidade Federal de São Paulo.
Em 90% dos casos, o câncer de colo de útero está associado à infecção pelo vírus HPV, transmitido sexualmente. No início da contaminação, o HPV provoca alterações na estrutura das células uterinas. Apesar de minúsculas, essas lesões são facilmente identificadas pelo papanicolau. Deixados sem tratamento, esses pequenos machucados podem vir a se transformar em um tumor maligno.
Doenças
DIABETES
Doentes sem tratamento
O levantamento do Ministério da Saúde comprova uma antiga suspeita dos médicos: a de que o diabetes é uma doença muito mal diagnosticada no Brasil. Apenas 7,6% dos homens e mulheres entre 45 e 54 anos declararam ser portadores do distúrbio. "Esse índice deveria ser no mínimo duas vezes maior", diz Antonio Chacra, professor de endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo. "Trata-se de um problema de ordem comportamental: as pessoas nessa idade apenas descobrem que têm a doença de forma indireta, quando vão ao médico por outros motivos." Até uma década atrás, acreditava-se que o diabetes tipo 2, responsável por pelo menos 90% dos casos da doença, se manifestava a partir dos 45 anos. Hoje, sabe-se que ele aparece na faixa dos 30 anos. Apesar de inúmeras campanhas de sociedades especializadas e do próprio governo, pelo menos metade dos 10 milhões de brasileiros não sabe que é portadora da doença.
De progressão silenciosa, o diabetes é resultado de um defeito no metabolismo da glicose. Obtido a partir dos alimentos, esse açúcar funciona como combustível do organismo. Para chegar às células do corpo pela corrente sanguínea – e fornecer a energia necessária para o funcionamento do corpo humano –, a glicose precisa de insulina. Nos diabéticos, por deficiências no funcionamento da insulina, a glicose tem dificuldade de entrar nas células e se acumula no sangue. Esse excesso de açúcar machuca a parede das artérias, favorecendo as doenças cardiovasculares e as neuropatias. A obesidade e o stress estão entre os principais fatores de risco para o diabetes tipo 2. O excesso de células adiposas barra a entrada de glicose nas células. O stress, por sua vez, favorece a produção do hormônio adrenalina, que ajuda a inibir a ação da insulina. Ou seja, sobra açúcar no sangue.
COLESTEROL E HIPERTENSÃO
Mulheres sob pressão
Os diagnósticos de hipertensão e o colesterol alto são mais comuns entre as mulheres brasileiras. Quando se analisa a relação entre os sexos por faixa etária, chama atenção a taxa de incidência dessas doenças entre os mais jovens. De acordo com o levantamento do Ministério da Saúde, a incidência de um dos dois distúrbios em mulheres entre 18 e 44 anos é, em média, 1 ponto porcentual maior do que nos homens da mesma idade. "Mesmo baixa, essa diferença surpreende. Nessa fase, não há explicação biológica para que as mulheres sejam mais acometidas por essas doenças", diz o cardiologista Ibraim Masciarelli, do Hospital do Coração, em São Paulo. Dados internacionais mostram, por exemplo, que tanto a hipertensão quanto o colesterol alto têm se alastrado entre as mulheres, mas não a ponto de fazê-las ultrapassar os homens. A cada mulher com distúrbios cardiovasculares provocados ou pelo colesterol alto ou pela hipertensão, há três homens com o mesmo problema. A justificativa para, no Brasil, o volume de diagnósticos ser maior no sexo feminino pode ser de ordem comportamental. "Ao que tudo indica, as brasileiras cuidam mais da saúde do que os homens e, por isso, descobrem mais facilmente a existência dessas doenças", diz Masciarelli.
Depois da menopausa, as curvas masculina e feminina da incidência de hipertensão e colesterol alto se afastam ainda mais. Com a queda na produção do hormônio estrógeno, a mulher se torna naturalmente mais vulnerável às duas doenças. O estrógeno, hormônio produzido pelos ovários, é um dos maiores aliados do coração – e, portanto, inimigo do colesterol alto e da hipertensão. De um lado, o hormônio influencia diretamente na conversão da gordura dos alimentos em colesterol. Ele estimula a fabricação do HDL, o colesterol bom, e reduz a de LDL, o ruim. Em excesso, o LDL contribui para a formação das placas de gordura que entopem as artérias – 40% das mortes por infarto e derrame estão relacionadas ao colesterol alto. O estrógeno é também um potente vasodilatador. A falta do hormônio feminino pode desencadear o estreitamento das artérias e veias. A diminuição no calibre dos vasos, por sua vez, dificulta a chegada de oxigênio a todos os órgãos do corpo. É o primeiro passo para infartos e derrames. Para se ter uma idéia, a hipertensão está associada a 40% das mortes por infarto.