O Estado de S. Paulo |
13/3/2008 |
A versão bastante difundida nos meios políticos sobre a possibilidade de uma aliança entre PT e PSDB enfrentou um teste de realidade nesta semana e não passou. Foi na terça-feira. De tarde, o presidente Luiz Inácio da Silva fez um discurso no interior do Tocantins, mostrando os dentes à oposição. Agressivo, falando do palanque a um público formado em sua maioria por trabalhadores rurais, acusou seus adversários de tentarem impedi-lo de governar por estarem obcecados em impor a ele uma derrota na eleição de 2010. “Só pensa naquilo.” Como “prova” exibiu a derrota da CPMF no Congresso. Horas mais tarde, na sessão do Senado que se estenderia até a madrugada da quarta-feira e aprovaria a criação da TV pública, foi a vez de a oposição exibir as unhas. Revoltados com as manobras da maioria governista, os senadores do PSDB e do Democratas retiraram-se do plenário depois de uma longa e nunca vista troca de desaforos, cujo alvo explícito foi o líder do governo, Romero Jucá, mas o sujeito oculto respondia pelo nome de Lula, sobrenome PT. Juntem-se esses dois episódios e não será preciso muito esforço para concluir que a hipótese da aliança pode até existir na cabeça de petistas e tucanos de boa vontade, mas não resiste a um choque de vida real. O clima na manhã de ontem no Congresso era péssimo. O governo havia usado a maioria para tripudiar, exasperar, manobrar sem a menor preocupação de preservar civilidade. A oposição tampouco havia se valido do direito à obstrução em termos amenos. Gritara, insultara, ofendera e, quando o dia amanheceu, anunciava o rompimento do acordo feito na véspera para votar o Orçamento. Os governistas, vitoriosos, haviam conseguido mostrar aos oposicionistas o peso da maioria e cumprido a missão recebida do presidente, de ganhar a qualquer custo e, no campo do simbólico político, vingar o Planalto da humilhação imposta pela derrota da CPMF três meses atrás. Os oposicionistas não contestavam a derrota e sim a quebra do padrão de convivência no Parlamento, o atropelo de todas as praxes, o recrudescimento dos métodos, e prometiam ir à forra mais adiante. “Eles vieram instruídos a radicalizar”, constatava o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a poucos metros de distância do líder do PMDB, Valdir Raupp, inconformado com a “agressividade da oposição”. O geralmente moderado Sérgio Guerra avisava que o governo havia escolhido os termos da luta e decretava que as relações estavam irremediavelmente comprometidas dentro e fora do Legislativo. “A agenda não está fechada. Há duas CPIs importantes (ONGs e Cartões Corporativos) em pauta, há denúncias a serem feitas, escândalos que ainda vão surgir, eleições e muita coisa para acontecer. É preciso ver que quem precisa de paz e boa convivência no Parlamento é muito mais o governo do que a oposição.” No meio da tarde ocorreu o recuo da oposição em relação ao acordo do Orçamento, para cuja aprovação o governo teria de novo maioria de qualquer jeito. Um acerto pontual, tático. No plano estratégico, vale dizer, eleitoral, cada um continuará onde está: ambicionando o mesmo (o poder) e, portanto, sem a menor chance de se aproximar. Fatura A reunião do presidente Lula com seu conselho político, na terça-feira, foi o retrato do que é a relação de compra e venda entre Executivo e Legislativo. Lula não negocia votações com sua base, não argumenta. Simplesmente manda que os parlamentares votem ou que se retirem “do governo”. Em termos crus: está pagando e quer levar. Os parlamentares, por sua vez, também não discutem o conteúdo dos temas em questão. Ou se calam, ou balbuciam queixumes pedindo mais. O utilitarismo, o interesse e o oportunismo sempre permearam a convivência entre o Congresso e a Presidência da República.Mas, nunca antes neste país o presidente em pessoa tratou das coisas nesse patamar. Recibo O senador Tasso Jereissati chamou a base governista de vendida da tribuna do Senado e, à exceção dos protestos de Almeida Lima e Epitácio Cafeteira, ao microfone ninguém o contestou. Público e privado Em Nova York, a oposição republicana não pestanejou, pediu de pronto a renúncia do governador democrata, Eliot Spitzer, que não perdeu tempo acusando a imprensa de invadir sua vida pessoal por publicar a história de seu envolvimento com uma rede de prostituição e deixou o cargo sem tentar brigar com os fatos. Por aqui gostamos de apontar o caráter puritano da sociedade americana quando, na realidade, o que existe por lá é a noção consolidada de que o agente público é coisa pública. Ou anda na linha no profissional e no pessoal, ou vai trabalhar na iniciativa privada onde, aí sim, só deve satisfações à família. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, março 13, 2008
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