O Estado de S. Paulo |
13/3/2008 |
O PIB de 2007 veio de bom tamanho. Sempre se poderá dizer que o avanço de 5,4% poderia ser maior. Mas é preciso antes reconhecer que houve progresso. Já não dá para seguir dizendo, como em todos esses anos, que este foi mais um vôo da galinha. O crescimento econômico, que já é o dobro do que era há 15 anos, vai sendo obtido com inflação sob controle, equilíbrio da economia e ventos externos favoráveis. Mas não dá para festejar demais. Sem as reformas de base, sem maior infra-estrutura e sem combate a tantos apagões internos, em pouco tempo o crescimento terá ido longe demais e poderá voltar a empacar. São três as observações que se podem fazer a partir dos números divulgados ontem pelo IBGE. A primeira delas é que esse desempenho está sendo obtido com base no aumento consistente do consumo, de 6,5% - não no de artificialismos -, graças à expansão do crédito (28,8%), da massa salarial (3,6%) e do emprego (3,0%). No entanto, o aumento do consumo está maior do que o crescimento da produção. Isso mostra como as importações estão sendo importantes. Para garantir o avanço consistente delas, é preciso que as exportações não baqueiem e ajudem no suprimento de dólares. Por enquanto, essa equação está bem fechada. E aí já chegamos à segunda observação: é notável o desempenho dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), que no ano passado cresceram 13,4%. É bom indício de que o setor produtivo está providenciando aumento de capacidade para dar conta do consumo futuro. E, terceira observação, o crescimento de 5,4% é um bom embalo de início de ano para que a economia siga nesse ritmo ao longo de 2008. A incógnita é o comportamento da economia global, que parece embicada para uma recessão de proporções médias. Como vem sendo notado pelos analistas, isso poderá ter impacto negativo sobre as exportações nacionais. Mas, se o mercado asiático, principalmente o da China, resistir bem à crise, os estragos por aqui podem ser limitados. A questão-chave consiste em saber se esta é apenas uma boa fase ou se a economia inicia um novo ciclo de longo prazo. A probabilidade maior é de que está iniciando. E isso muda muita coisa. Um bom número de economistas e empresários parece não entender a mudança de qualidade em processo e lamenta o dólar e os juros “fora de lugar”, aferrado ao diagnóstico de que o Brasil está sendo abatido por predadores e pela desindustrialização. E, assim, ou pede políticas protecionistas ou fica augurando o mergulho na crise, como certos crentes à espera do fim do mundo. É gente que não se dá conta de que está em curso uma nova redistribuição do trabalho global, baseada na inclusão de enormes massas ao mercado de trabalho e correspondente aumento do consumo. É o que aumenta o mercado não só para produtos primários, mas, também, para os industrializados do Brasil. Se estamos de fato no início de novo ciclo de longa duração, todo o setor produtivo nacional terá de se ajustar. E, sob pena de ficar definitivamente para trás, o País não pode perder mais tempo com adiamento das reformas e dos enormes investimentos em infra-estrutura. CONFIRA A conferir - O tempo vai dizer se as decisões de política cambial destinadas a conter “o derretimento do dólar” serão eficientes. Em todo o caso, ficou clara a determinação das autoridades de agir. Até agora, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, martelava que em nenhum momento o BC se preocupou com a valorização do real; que as intervenções no câmbio se limitariam a acumular reservas e a evitar volatilidade. E que qualquer distorção seria corrigida pelo câmbio flutuante. Meirelles não estava na entrevista de ontem para explicar por que mudou a política. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, março 13, 2008
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