Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 09, 2008

Dora Kramer Calendário antecipado

O processo eleitoral de outubro se precipitou, os candidatos tomam desde já suas posições e, por isso, a fim de não perder terreno para o inimigo, a ministra Marta Suplicy deixará a pasta do Turismo e anunciará sua candidatura à Prefeitura de São Paulo no fim de abril.


Com os dois pesos pesados do PSDB, José Serra e Aécio Neves, patrocinando as candidaturas de seus dois principais adversários, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin, Marta foi levada a se dar conta de que sua candidatura corria risco de perder força.

Até há algumas semanas, ela estava decidida a apresentar seu nome só em junho, usando todo o prazo legal para a desincompatibilização do cargo de ministra. Pretendia aproveitar ao máximo o tempo em seu favor, assistindo de camarote à briga dos tucanos em torno das candidaturas de Kassab e Alckmin.

O problema é que o adversário começou a andar rápido demais, a ocupar os espaços disponíveis para alianças, a se consolidar como dono da cena. Marta, o PT e o Palácio do Planalto perceberam então que, se ficassem parados, ao invés de tirar vantagem, acabariam sofrendo uma brutal desvantagem com a espera e terminariam isolados.

Afinal, em São Paulo, quem tem o poder é a oposição ao presidente Luiz Inácio da Silva no plano federal. O DEM ocupa a prefeitura e o PSDB o governo do Estado, máquinas poderosas, atrativos assaz sedutores para partidos em busca de aliança.

Exatamente por causa das circunstâncias internas, Alckmin e Kassab saíram cada um de seu lado tratando de consolidar as respectivas postulações. Estão praticamente em campanha, articulando alianças, montando equipes, elaborando suas estratégias.

Se porventura, numa hipótese hoje remota, vierem a reatar a aliança no primeiro turno entre PSDB e DEM, basta juntarem as energias já postas em movimento e seguir adiante. Mas o PT, parado, sem candidatura, não podia nem fazer com que a estrutura federal começasse a trabalhar em seu favor.

No alto comando petista causou inquietação uma notícia chegada do campo inimigo, dando conta de que Alckmin teria acertado com o senador Romeu Tuma a promessa da vaga de vice.

O PTB, partido de Tuma, é da base aliada e seria, em princípio, um parceiro do PT, que agora dá como perdido esse apoio porque os petebistas também mantêm conversas adiantadas com Kassab.

Há preocupação ainda com o PMDB. Apesar de o partido ser o principal integrante da coalizão federal com o PT, no âmbito local tem autonomia para decidir e, assim como o PTB, já está sentando à mesa com tucanos e democratas.

Diante da constatação de que o isolamento se avizinhava e, com ele, a possibilidade até de ficar fora do segundo turno, a candidata petista precisou mudar toda sua estratégia.

No início, Marta pretendia esperar que Lula fizesse um pedido público para que ela fosse candidata, pretendendo também receber garantia de volta ao ministério em caso de derrota. Isso está fora de cogitação. Inclusive porque o Ministério do Turismo entrará na roda de negociações com os partidos aliados.

Agora a ministra já considera um gesto suficiente o fato de o presidente ter designado seu marqueteiro pessoal, João Santana, para cuidar da campanha em São Paulo e resolveu pôr as mãos na obra antes que seja tarde demais.

Mercado futuro

Independentemente de quem venha a ser realmente seu candidato, ou candidata, à Presidência em 2010, o presidente Lula leva a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, para todos os palanques no intuito de não deixar a oposição ocupar sozinha a cena da sucessão presidencial com seus pré-candidatos em franca movimentação eleitoral - seja no palco ou no bastidor.

Não vai deixar acontecer o que, percebeu, está quase acontecendo na preliminar da disputa paulistana.

Com Dilma debaixo do braço, Lula sempre pode dizer - como disse sexta-feira no Rio - que não está em campanha. Ela é ministra, sua presença faz sentido nas cerimônias, gerencia realmente o PAC, pode ser chamada de “mãe” do programa sem que isso crie nenhuma obrigação mais à frente.

Dilma não tem capital político próprio, pode ser movida para lá ou para cá de acordo com a conveniência. E por enquanto é conveniente que cumpra o papel de candidata para manter acesa a chama da expectativa de poder.

Se Lula não fizer agora movimentos eleitorais com sinalização futura, seu governo murcha.

Ponto de vista

No Democratas há duas avaliações, uma oposta à outra, sobre o efeito da entrada em cena de Fernando Gabeira na eleição à Prefeitura do Rio.

Se o analista é local, tem assento na administração Cesar Maia, a desqualificação é total: fogo de palha, candidatura festiva, larga bem e chega mal, e por aí vai.

Se o observador olha um pouco mais de longe, do gabinete do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, Gabeira é chamado de “terceira via”.

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