artigo - Maria Clara R. M. do Prado |
Valor Econômico |
13/3/2008 |
sociedade brasileira há muito aprendeu que dólar fraco significa produto barato. O poder aquisitivo do real aumenta, na mesma proporção da valorização da moeda local. As pessoas se sentem mais "ricas" pela maior facilidade de acesso aos bens de consumo. O "fenômeno" surgiu no lançamento do real, em 1º de julho de 1994. Sem saber ao certo o que fazer com o câmbio e depois de decidir que a taxa de juros de curto prazo, a Selic, abriria em alta nominal expressiva para compensar inesperados (e desconhecidos) aumentos de preços, os economistas do real impuseram uma valorização cambial na partida. O mercado tomou gosto pela coisa. O que era para ser temporário, conforme imaginava então Pérsio Arida, tornou-se mais duradouro. Em poucos meses, transformou-se na política cambial do Banco Central, com a administração indireta da taxa do real de modo a mantê-la valorizada face ao dólar norte-americano. O binômio "juro alto e câmbio baixo" manteve a inflação sob controle, a despeito da série de crises internacionais ocorridas nos anos 90. Não raro as discussões de hoje sobre a valorização do real remetem ao acontecido na década passada, sempre com destaque para as conseqüências nefastas que redundaram na traumática crise cambial de janeiro de 1999. Os contextos guardam, no entanto, semelhanças e diferenças. Primeiro, o real hoje flutua. Não é obviamente a flutuação plena. Se assim fosse, o real talvez estivesse valendo hoje o mesmo que chegou a valer em setembro de 1994, cerca de R$ 0,83 por dólar. O preço de manter a moeda nacional no nível em que está - de R$ 1,674 por dólar no fechamento de ontem - pode ser medido pelo custo da compra de divisas que tem fortalecido as reservas internacionais do país. Para cada dólar que compra no mercado, o BC vê-se obrigado a enxugar o excesso de liquidez em reais com a colocação de títulos do governo federal. Isso custa, por baixo, uns 6% a 7% por dólar recolhido, já descontado o ganho obtido com a aplicação das reservas no exterior. Custo aquele, vale lembrar, que é pago pela sociedade. O preço disso se materializa na execução de uma política monetária conservadora, que optou por manter os juros em patamares elevados para padrões internacionais, seguindo a mesma receita praticada nos anos 90. Uma Selic comparativamente alta atrai a entrada de dólares no país tanto de investidores quanto de exportadores. Nenhuma moeda no mundo paga tanto juro como o real. Paradoxalmente, portanto, ainda que privado do poder de conversibilidade no exterior, o real segue sendo uma das moedas mais valorizadas do mundo face ao dólar norte-americano.
No frigir dos ovos, pode-se dizer que juntou-se a fome com a vontade de comer. Juros altos estimularam a entrada de dólares em um contexto internacional até aqui favorável ao ingresso da divisa estrangeira no país. Sem esquecer a pitada a mais de estímulo à abundância interna de dólares na forma de isenção fiscal à aquisição de títulos públicos concedida há dois anos a investidores estrangeiros. Premido pelo déficit em conta-corrente, o governo passa a defender o fortalecimento do dólar, como se esta fosse uma moeda emitida pelo Banco Central do Brasil. A esta impossibilidade monetária, deve-se somar o fato incontornável de que a perda de valor do dólar é mundialmente generalizada. Portanto, despido de retóricas, o discurso do governo é falso. O correto para as autoridades seria assumir publicamente que vislumbra a adoção de medidas com vistas ao enfraquecimento do real.
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quinta-feira, março 13, 2008
A difícil tarefa de enfraquecer o real
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