Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 21, 2008

Celso Ming Se não é bolha, o que é?

Prosseguiu ontem o processo de desinchamento dos preços das commodities. Com raras exceções, os preços caíram em todos os mercados. O gráfico mostra o comportamento de três dos mais importantes índices que medem o comportamento do segmento.

O termo acima usado (desinchamento) deve ser inadequado para definir o que está acontecendo. Pressupõe a existência de um inchaço sobre o qual novas circunstâncias estariam atuando. O problema é que ainda não há clareza sobre o que está ocorrendo e talvez não haja tão cedo.

São basicamente três as explicações para a esticada dos preços até sete meses depois do início da crise e os desdobramentos de baixa dos três últimos dias (veja gráfico).

Há aqueles para os quais o mercado de commodities foi ou está sendo objeto de nova bolha especulativa pelos fundos de hedge e de investimento. Nessas condições, seria candidato certo a novo estouro, que pode ter-se iniciado. Essa posição não explica por que a alta atingiu também matérias-primas que não são commodities, que não podem ser objeto de especulação nos mercados. É o caso do minério de ferro, do ácido sulfúrico e das rochas fosfáticas. Tampouco explica a forte baixa dos últimos dias das commodities alimentares (milho, soja e trigo), cujo consumo tende a subir, ou até das ações da Vale.

Outros entendem que o que acontece com as commodities são movimentos de gangorra. Como os preços são fixados em dólares, cada vez que cai a cotação do dólar os mercados puxam as das commodities, como a compensar a quebra de faturamento. Nessas condições, a atual baixa refletiria certa recuperação do dólar no câmbio internacional. Esse jogo exigiria que pelo menos uma das pontas do mercado estivesse em condições de impor essa compensação, o que na prática é difícil de acontecer em mercados de tão acirrada concorrência.

Uma terceira posição é aquela que vê o mercado de commodities como função dos próprios fundamentos, oferta e procura. Assim, os preços subiram basicamente porque os asiáticos precisam cada vez mais prementemente de matérias-primas, de energia e de alimentos, e começaram a cair porque o mercado entendeu que a recessão americana pode afetar a procura global. Assim, não haveria como sustentar a alta anterior, num mercado sob impacto da recessão global.

Contra esse entendimento há fatos igualmente fortes. É improvável que a recessão americana seja tão profunda a ponto de derrubar dramaticamente a procura por matérias-primas. Dificilmente haverá crescimento zero nos Estados Unidos ou em qualquer região economicamente importante do planeta. Além do mais, o consumo asiático poderá cair um pouco, mas é improvável que resvale para abaixo dos 9%. Isso significa que o consumo de commodities deve continuar elevado.

Parece mais correto afirmar que esse mercado está sob o impacto das três forças acima descritas e, em certa medida, de especulação de última hora. Mas, definitivamente, não dá para medir em que proporção e em que momento isso acontece ou aconteceu.

Por isso é precipitado concluir que as exportações nacionais estejam sob perigo ou que a Bolsa brasileira inicia um mergulho prolongado.

Confira

Coração de mãe - O banco central americano está aceitando coisas surpreendentes como garantia de seus empréstimos de liquidez para os bancos.

O leilão anunciado dia 11 exigia em troca de títulos do Tesouro títulos de empresas, de municípios e hipotecas (todos eles de grau de investimento). Agora, "depois de ampla consulta com participantes do mercado", passou a admitir títulos amarrados a hipotecas residenciais.

Estes são títulos de difícil ou impossível avaliação. Não há a menor idéia de como evoluirão os preços dos imóveis nos Estados Unidos.

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