Lançada uma nova classe de remédios contra a hipertensão
Adriana Dias Lopes
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Eram 4h35 da tarde de 12 de abril de 1945 quando o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, sofreu um derrame fatal. A notícia foi recebida com estupefação. A morte do estadista "chegou repentina e inesperadamente", nas palavras do jornal The New York Times. Na avaliação de qualquer médico dos dias de hoje, no entanto, a hemorragia cerebral de Roosevelt era mais do que previsível. Sua pressão arterial vivia nas alturas. No Dia D, 6 de junho de 1944, chegou a 22 por 11 (quando o normal é, no máximo, 14 por 9). No dia de sua morte, atingiu inacreditáveis 30 por 19. Roosevelt foi vítima do desconhecimento da medicina de sua época sobre os perigos da hipertensão. Há sessenta anos, acreditava-se até mesmo que, quanto mais alta a pressão, mais facilmente o sangue correria pelas veias e artérias endurecidas no processo de envelhecimento. Principal causa de derrames e fator de risco para infartos, a hipertensão só começou a ser investigada como doença no início dos anos 50 – a partir do momento em que as companhias de seguro americanas notaram que a incidência do distúrbio era grande na lista de clientes mortos. De lá para cá, a medicina avançou muito nos conhecimentos sobre a doença e nas formas de controlá-la.
Uma das frentes mais promissoras de combate à hipertensão é o arsenal químico. E há boas novidades na área. A mais recente delas é o alisquireno, o princípio ativo do medicamento Rasilez, fabricado pelo laboratório Novartis, o primeiro de uma classe inédita de anti-hipertensivos. O remédio age em um dos mecanismos mais importantes do controle da pressão arterial, o circuito renina-angiotensina – uma cascata de reações químicas que, orquestrada pelos pulmões, rins e fígado, produz a contração natural dos vasos sanguíneos. Nos hipertensos, esse sistema está fora de sintonia e funciona em ritmo acima do normal. Com o alisquireno, o circuito passa a trabalhar normalmente. Além do novo anti-hipertensivo, outros medicamentos atuam em renina-angiotensina de modo a evitar a contração exagerada das veias e artérias (veja o quadro). Mas o novo remédio é o primeiro a intervir na etapa inicial desse circuito. "Por causa de sua forma de ação, o remédio tende a apresentar menos efeitos colaterais e a estabilizar a pressão mais rapidamente", diz o nefrologista Décio Mion, chefe do departamento de hipertensão do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Quadros leves de diarréia são as reações adversas mais comuns do alisquireno. Ele é capaz de estabilizar a pressão em duas semanas – o que os anti-hipertensivos mais antigos levam um mês para conseguir.
O alisquireno representa um passo significativo na luta contra uma doença extremamente complexa, desencadeada por uma dezena de processos fisiológicos, mas está longe de ser a pílula mágica contra a hipertensão. "Como o distúrbio raramente está associado a uma única causa, dificilmente ele é controlado com apenas um tipo de anti-hipertensivo", diz Mion. Em geral, o tratamento medicamentoso é indicado para os pacientes cuja pressão arterial é igual ou superior a 16 por 8 – os casos tidos como de moderados a graves. Aos doentes leves, a primeira recomendação é controlar a pressão arterial com a adoção de hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de exercícios físicos associada a uma dieta de pouco sal e muito potássio e magnésio, como grãos, cereais, frutas e hortaliças. "Uma pessoa acima do peso, com hipertensão leve, que perde 10 quilos consegue reduzir a pressão arterial em até 2 pontos, um ganho equivalente ao dos medicamentos", diz o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, diretor do departamento de hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Uma das maiores dificuldades no tratamento da hipertensão é manter os pacientes engajados no controle da doença. Antes de mais nada, é preciso, claro, que eles saibam que têm pressão alta. A hipertensão avança silenciosamente. Sem dar sinais de sua existência, ela vai danificando a parede interna dos vasos sanguíneos. Essas lesões facilitam o depósito de gordura nas artérias, o que pode causar infarto. Os machucados podem também arrebentar uma artéria – e a isso se dá o nome de derrame. Para se ter uma idéia, dos 30 milhões de hipertensos brasileiros, apenas metade sabe que está doente. E, destes, somente 10% conseguem manter a pressão nos patamares tidos como normais.
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