Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

VEJA Carta ao leitor


É hora de impor limites

Os ministros de pastas exóticas e rápidos para sacar seus cartões de crédito funcionais, objeto de uma reportagem da presente edição de VEJA, são um péssimo sinal dos tempos em que vivemos. Constituem mais uma evidência de que a carreira pública nos altos escalões é encarada menos como missão e muito mais como um meio de rápida ascensão social feita à custa dos bolsos dos cidadãos que trabalham e pagam seus impostos. Nunca é demais lembrar que governos não produzem um centavo de riqueza. Tudo o que seus burocratas gastam em proveito próprio ou não com seus cartões de crédito é fruto do suor da camada da sociedade que recebe e paga salários, que investe e se arrisca em atividades produtivas.

É triste constatar isso, mas a noção de servidor público que tem o povo como seu senhor praticamente inexiste nas altas esferas do poder em Brasília. Vê-se isso tanto no gesto automático da autoridade que saca um cartão de crédito oficial para pagar despesas pessoais quanto na leveza de alma com que se distribuem cargos com a chave do cofre aos partidos amigos dos donos do poder. O loteamento e o fisiologismo e mesmo os cartões de crédito funcionais não são invenção do atual governo. Este se responsabiliza, sim, pelo uso abusivo sem precedentes desses mecanismos.

Todos sabem as dificuldades que os governos têm para atrair e manter quadros de alto nível. Faltam salários adequados e carreiras mais sólidas e atraentes impulsionadas pelo mérito e não pelo tempo de serviço. Mas esses obstáculos não justificam as recompensas desonestas que muitas autoridades se dão e que acabam sendo o grande motivo de disputa pelos cargos que ocupam. É preciso tirar da esfera de influência dos partidos políticos os cargos públicos mais vitais para o funcionamento da máquina estatal. A tarefa é hercúlea. Ela pode parecer utópica e inalcançável aos olhos da atual geração de brasileiros, mas passa da hora de o Brasil contar com uma elite burocrática politicamente neutra, eticamente enquadrada, competitivamente remunerada e patrioticamente motivada.

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