O governo do Rio contém balbúrdia de oficiais
da PM que causou crise na Segurança Pública
Beltrame diante do ex (à dir.) e do novo (à esq.) comandante da PM: revoltosos afastados |
Na semana passada, 45 oficiais graduados da Polícia Militar do Rio de Janeiro realizaram um ato de insubordinação contra o governo estadual. Em protesto contra a exoneração do coronel Ubiratan Ângelo, comandante-geral da PM fluminense, eles entregaram seus cargos. Com isso, esperavam não apenas reverter a demissão de Ângelo mas também forçar a saída do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. O governador Sérgio Cabral não se dobrou à pressão. Confirmou o coronel Gilson Pitta Lopes como novo comandante-geral e ainda trocou toda a cúpula da PM. Foi uma decisão acertada. "Oficiais não podem agir dessa forma", diz o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública. "Como vão zelar pela hierarquia se eles mesmos a ignoram em relação aos superiores?" A crise pôs a nu mais uma vez as fraturas de uma instituição que foi tratada com descaso por sucessivos governos – e que também se deixou contaminar pelos males que deveria combater.
A PM fluminense com freqüência ganha espaço no noticiário por motivos nada nobres – como corrupção ou participação de policiais em chacinas. A demissão do coronel Ângelo está ligada a dois desvios de conduta flagrados recentemente. No fim do ano passado, policiais investigados por extorsão celebraram sua saída da cadeia de forma acintosa, com um foguetório. Há quinze dias, PMs foram fotografados levando caixas de cerveja de um caminhão roubado. Sérgio Cabral considera que, diante desses episódios, Ângelo foi complacente e não agiu com rigor para limpar a imagem da corporação. Daí a decisão de exonerá-lo. A revolta dos oficiais seria fruto do corporativismo. "Tenho interferido em velhos vícios da instituição", diz Cabral. "Acabou, por exemplo, o loteamento político das unidades da polícia, e isso contraria muita gente."
Rogerio Teixeira |
Insubordinação: passeata virou provocação a Cabral |
O governador reconhece, no entanto, que é preciso dar atenção às reivindicações salariais dos PMs. Elas apareceram de maneira enviesada na crise da semana passada. No dia 27, integrantes do mesmo grupo de oficiais, que depois apresentou sua demissão coletiva, organizaram uma passeata por salários. Como provocação, passaram perto da entrada do prédio onde mora Cabral. O estado concedeu reajuste de 4% aos PMs em 2007. Segundo Beltrame, novos benefícios deverão sair neste ano. "A reivindicação salarial é justa", diz o secretário. "Mas a quebra de disciplina foi um delírio. Não é assim que se negocia."