Os Indomáveis é um belíssimo exemplar do faroeste tardio.
Pena que o público não queira mais saber do gênero
Isabela Boscov
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Bale, o rancheiro em maré de azar, com a mulher (Gretchen Mol): 200 dólares ou a vida |
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Há mais de quarenta anos a morte do faroeste vem sendo continuamente anunciada – e também esperançosamente desmentida por cineastas que retornam ao gênero para garimpar as riquezas em que ele é pródigo: o melhor cenário possível para contrapor os homens à natureza e para encenar o embate entre civilização e selvageria, entre a lei e a falta dela, entre a retidão e o banditismo, entre a família e a violência. Mas, exceto por uma ou outra palpitação, como Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, no que toca ao público o western está, de fato, se não morto, pelo menos bem moribundo. Brad Pitt, que quase sempre atrai bilheterias decentes, não conseguiu fazê-lo com O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, que, a rigor, nem faroeste era. E o mesmo destino teve Os Indomáveis (3:10 to Yuma, Estados Unidos, 2007), que estréia nesta sexta-feira no país. Refilmagem de um bangue-bangue de segunda linha (e ainda assim muito bom) de 1957, ele traz Russell Crowe como Ben Wade, líder de uma gangue que assalta trens e diligências, e Christian Bale como Dan Evans, o fazendeiro pobre como rato de igreja que, para salvar sua propriedade do confisco, pede 200 dólares para levar o ardiloso Wade até o trem que o conduzirá à prisão. O bandido não tem a menor dúvida de que seu bando irá resgatá-lo. Caprichoso como ele só, então, consente em dar uma mãozinha ao fazendeiro e se deixar escoltar por ele: Evans o enfrentou três vezes num único dia, e um sujeito assim merece algum respeito.
Nas mãos de James Mangold, um desses diretores versáteis que fazem de tudo, a trama se desenrola que é uma beleza. Dan Evans voltou amputado da Guerra Civil (1861-1865) e, como diz à mulher, está há três anos tentando se manter em pé sobre uma perna só, brigando com a seca, com seu fiador e com a decepção dos filhos. A fazenda é tudo o que sua família tem. Então, se for preciso, dará a vida por ela, para que a família e a terra continuem existindo além dele. Ben Wade se tornou criminoso em razão de contingências ainda mais desesperadoras – mas insiste que é "podre até a medula", ou não duraria cinco minutos na companhia de um bando violento como o seu. De certa forma, tanto Wade quanto Evans precisam interpretar um personagem para consumo público. E ambos, portanto, têm mais em comum entre si do que com as pessoas de suas respectivas estirpes. Esse tipo de oposição é a verdadeira essência do faroeste, e Mangold a desdobra em detalhes que revelam conhecimento do gênero e também paixão por ele: a maneira distinta como cada personagem desmonta de seu cavalo, a trilha que cita a tradição, mas também a renova, os planos vastos em que a poeira levantada pela gangue traz o medo bem antes que os próprios bandidos cheguem. Os Indomáveis não revisa nem subverte os pontos cardeais do faroeste, como Os Imperdoáveis. É um legítimo western crepuscular, como os lançados nos anos 50 e 60, quando a amargura se insinuou no gênero. É bonito, empolgante e muitíssimo bem-feito, e tem em Christian Bale um intérprete à altura dos melhores. Pena se pouca gente se animar a vê-lo.