Caíram em outra forma de realização socialista, cujo emblema é, hoje, o mensalão
DENIS LERRER ROSENFIELD
A discussão sobre a natureza do governo petista envolve uma abordagem de sua relação com a proposta socialista que o orienta. A questão ganha ainda um contorno mais acentuado pelo fato de os críticos à atual orientação considerarem que Lula e os seus companheiros governamentais sejam, supostamente, ex-socialistas.
Outros, por sua vez, procuram manter a idéia de socialismo como uma idéia sagrada, que teria sido maculada por “traidores”. Os que defendem o “socialismo” como uma idéia que seria perene e imutável, sempre clamando por sua realização, são, paradoxalmente, os que mais se afastam de Marx. Estão, na verdade, ancorados numa idéia de tipo religioso, imune à sua realização e às provas empíricas e históricas de sua realização. Para Marx, a natureza de uma coisa se definia por seu próprio processo. No caso, o socialismo seria a idéia e sua realização, o processo conduzindo de uma à outra revelando a sua própria natureza.
Desvincular a idéia de sua realização seria um procedimento dogmático. Para efeitos desta análise, não considerarei a social-democracia como uma forma de socialismo, embora pudesse fazê-lo. A razão é simples. Historicamente, os socialdemocratas foram considerados “renegados”, “traidores” do verdadeiro socialismo, tendo sido relegados à categoria depreciativa dos “reformistas”. No Brasil, são considerados “neoliberais” pelos petistas e pelos grupos mais à esquerda, como o PSOL. Esse imbróglio, aliás, explica boa parte das dificuldades vividas pelo país, impossibilitando um diálogo, que não seja de surdos, entre o PT e o PSDB.
O socialismo, lá onde se realizou, terminou se mostrando um dos regimes políticos mais desumanos da História. A única dificuldade seria encontrar o exemplo mais aterrador, embora os ícones maiores sejam a União Soviética sob Stalin, o Camboja sob Pol Pot e a China sob Mao. Os assassinatos em massa, a supressão total das liberdades, inclusive as mais elementares, a onipresença do Estado, a miséria de boa parte de suas populações, a mentira como forma de governo, um partido que se dizia representante da verdade e a servidão de todos ao Estado-partido foram algumas de suas características mais visíveis. Seu êmulo mais saliente na América Latina foi Cuba, que até hoje permanece como um regime anacrônico e liber ticida.
Temos, agora, uma nova safra de repetidores, sendo o mais estridente deles Hugo Chávez, na Venezuela, procurando recriar no continente a mesma barbárie padecida por aqueles povos. O esquema ideológico, aliás, é o mesmo, em nome da “generosidade” e da “justiça”, contra o “imperialismo”, atraem as mentes incautas e dogmáticas, que estão ávidas por uma nova forma de servidão.
O PT jamais fez um balanço sério dessa história, embora o seu site e as suas publicações pululem de artigos a respeito. Os que criticam a experiência de realização do socialismo o fazem a partir de uma idéia religiosa que, por um mistério, teria sido mantida válida apesar de suas vicissitudes históricas. Vivendo com abstrações, que não oferecem nenhuma orientação para a tarefa de governar, terminaram caindo numa outra forma de realização socialista, cujos resultados se fazem sentir na corrupção e no aparelhamento partidário do Estado, cujo emblema é, hoje, o “mensalão”.
Nesse contexto, não deveria causar estranheza processos como os que desembocaram no mensalão e em outros escândalos do mesmo tipo. Eles constituem uma outra vertente do socialismo quando os seus representantes não conseguem impor uma democracia totalitária e se vêem confrontados a governar uma sociedade baseada na propriedade privada, na economia de mercado, no estado de direito e na defesa das liberdades. Oscilam os seus governantes entre a democracia totalitária, numa proposta presente nos ditos “movimentos sociais” e em seus apoios partidários, traduzindo-se em ministérios ocupados por esses grupos e correntes, e numa espécie de integração que fingem abominar e que se torna visível no desvio de recursos públicos. Como desconhecem a natureza democrática das sociedades que verdadeiramente realizaram o capitalismo, como os países europeus e os EUA, continuam vivendo na desorientação dos que se recusam a pensar a História e a si mesmos.
Entrevista:O Estado inteligente
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