O economista Nilson Teixeira, do Credit Suisse, acha que não há razão para que os juros subam no Brasil, ao contrário da maioria das previsões do mercado.
Disse que a inflação está mostrando tendências de queda e que a alta dos preços dos alimentos está em desaceleração. A visão positiva vai ao nível de atividade: ele acha que a produção industrial continuará em alta, puxada por mais renda e mais crédito.
Ontem saíram dois números que foram um pouco melhores do que o mercado apostava. A produção industrial de dezembro, em comparação com novembro, caiu menos que os 0,8% esperados.
No acumulado do ano, ficou um pouco maior do que se previa: 6%.
Mas o mais importante foi o que subiu e por que subiu.
A produção cresce há 17 trimestres quando comparados com o mesmo trimestre do ano anterior. Em 2007, subiu, basicamente, puxada pelo setor de bens de capital, que chegou no acumulado do ano a 17,7%. Na estimativa do Credit Suisse, 39% do crescimento da produção industrial no quarto trimestre foi de “produção de itens para investimento”.
A Abimaq — associação do setor de máquinas — faz também sua conta. Diferentemente do IBGE, não considera itens como computadores e celulares. Mesmo assim, a alta do faturamento em 2007 chegou a 13%, com um crescimento do consumo aparente (produção+importaçãoexportação) de 19%. As importações cresceram bastante, 40%; a alta deve se repetir este ano.
Quanto às máquinas agrícolas, que tiveram um crescimento estupendo no ano passado, a Associação lembra que 2006 foi o pior dos últimos 20 anos, ou seja, base de comparação era muito baixa. Eles acreditam que o setor ainda pode crescer forte em 2008.
Os responsáveis por cerca de 90% da alta de 2007 foram máquinas para os setores de petróleo e gás, açúcar e álcool, cimento e mineração, siderurgia e papel e celulose.
— Em 2008, dá para manter um crescimento de 10%, bem dividido por esses mesmos setores. E, se mantidos os planos de investimento, pode-se ter crescimento nos próximos três anos — acredita Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq.
Porém, ele mesmo reconhece que começam a surgir ameaças a este cenário: — Está bem no início, mas já vejo pessoas dizendo que vão esperar o primeiro trimestre para ver como é que ficam as coisas.
Um ponto de preocupação é a inflação, que subiu em 2007 e cujas taxas mensais, ainda que declinantes, estão altas. Ontem o IGP-DI saiu em 0,99%; menor que no mês anterior, quando foi de 1,47%, mas ainda muito alto. Nilson, porém, acha que o pior passou: — A inflação anual foi de 3,1% em 2006 e de 4,5% em 2007. Subiu, sem dúvida.
Mas 50% do aumento vieram de alimentação e bebidas, que subiram 10,8%.
Uma parte disso é demanda, mas uma parte foi choque de oferta. Se retirarmos o peso do choque de oferta, a inflação seria de 3,9%.
Ele argumenta que o mais importante é que as coletas vêm mostrando que, no atacado, os preços de carnes alimentação in natura estão caindo, e vão rapidamente afetar os preços no varejo.
— Por isso acho que não há necessidade alguma de elevação dos juros. Discordo inteiramente dos seus entrevistados de ontem — disse-me Nilson.
Ontem, aqui na coluna, publiquei as opiniões de José Júlio Senna, da MCM, e de Luis Fernando Lopes, do Pátria Investimentos, sobre juros.
Senna acha que é só uma questão de saber quando eles vão subir para responder às pressões inflacionárias. Lopes também acredita que a maior tendência é de que subam. A maioria do mercado acha que vão aumentar, tanto que estão subindo no futuro. Nilson crê que o mercado está sendo contraditório consigo mesmo: — Se as previsões são de que a inflação, no fim do ano, estará em 4,5%, e agora a inflação em 12 meses vai subir um pouco além da meta, mas depois vai cair, por que os juros teriam de subir? É natural que a inflação anual oscile em torno da meta e que se acomode um eventual choque de oferta — argumentou.
A questão é a soma da inflação subindo além do centro da meta numa economia que, como mostrou o dado de produção industrial, cresce puxada por 6% de crescimento da renda, forte expansão do crédito e com alto índice de ocupação da capacidade instalada.
— Numa economia previsível, é normal um índice de utilização da capacidade um pouco maior — explicou Nilson Teixeira.
As previsões do Credit para o ano são de que a renda continuará crescendo, mas num ritmo menor, assim como a produção industrial.
A expansão do crédito vai permanecer, apesar de o custo ser possivelmente maior após a decisão do Banco Central de criar o compulsório para as operações de leasing.
Para as máquinas, que garantiram parte do crescimento da indústria, a Abimaq acha que, também em 2008, a demanda interna poderá suprir possíveis perdas de mercados nas exportações. No ano passado, as vendas de máquinas brasileiras para os Estados Unidos, por exemplo, caíram 10%.
Nilson prevê um bom 2008: — Apesar da expansão do crédito, a capacidade de endividamento das pessoas continua alta. Como os juros caíram e os prazos se ampliaram, o comprometimento da renda continuou igual. Não há razão para se acreditar num aumento de inadimplência.
Os dados não deixam dúvida de que 2007 foi um excelente ano. As dúvidas que existem são sobre o futuro imediato. Ou seja, quem olha para o espelho retrovisor pode ficar contente, quem olha para a frente tem dúvidas se o país continuará crescendo, se a inflação não está alta demais, se a crise externa atingirá a economia interna.
Tomara que a razão esteja com os mais otimistas.
Entrevista:O Estado inteligente
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