Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 02, 2008

Miriam Leitão Folia de idéias

Porque hoje é sábado, e sábado de carnaval, seria bom esquecer a crise na maior economia do planeta. Mas isso é temerário! O risco é deixar a mente vazia, pois o território pode ser grilado por temas invasores: a ministra que usa R$ 171 mil no cartão corporativo; o senador Lobinho, aquele que dá suas empresas sem olhar a quem; o presidente que acha que o desmatamento é um tumorzinho à toa.

Os temas invasores são muitos e podem perturbar o seu sábado de carnaval; seja você do descanso ou da folia. Quem invade terra alheia — produtiva ou não — no Brasil de hoje passa a contar tempo para aposentadoria.

Imagine se algum desses temas invade o território da sua mente, ocupa as terras e ainda se aposenta por lá? Imagine um Lobinho invadindo sua mente e repetindo: Tudo o que eu fiz antes de vir para o Senado não é crime. Crime é aquilo que a gente comete depois de assumir o mandato do papai.

Isso o levará ao papai Lobão. Melhor não. Melhor pensar no subprime que nos nossos sobrepreços, porque isso conduzirá seus pensamentos para o depoimento de Delúbio Soares. Ele contabilizou tudo para a juíza. Disse que todo mundo estava careca de saber de tudo, dos seus milhões “não contabilizados”; que foi mandado “arranjar” o dinheiro desde que não fosse de forma legal, pois isso é muito perigoso: os empresários poderiam achacar o governo.

Dado que ilegais não achacam, ele acabou em Marcos Valério. Lá também pegou mais alguns milhões para pagar a compra dos apoios políticos na campanha presidencial. Essas ações delubianas, ordinárias, vão aumentar a volatilidade do seu humor carnavalesco, com viés de baixa.

Caso você seja folião daqueles animados, não cante “Olhe a cabeleira do Zezé”.

Isso o levará a pensar nos cabelos implantados de José Dirceu e naquela entrevista de arrepiar. Cuidado também para evitar o clássico “Me dá, me dá um dinheiro aí”. Fará lembrar que o governo, com um rombo no caixa, decidiu aumentar imposto já, e adiar os cortes de gastos.

E por pensar em gastos, aí estão os gastos do cartão corporativo! Inicialmente, o ministro da ControladoriaGeral da União disse que era “compreensível” haver esses excessos, porque os ministros não sabiam usar o cartão.

Um controlador assim tão “compreensível” é o sonho dos controlados. Mas, como os cartões não saíram do pregão, o governo quis se descolar da campeã da avenida das despesas.

Agora o governo vai fiscalizar tudo, noves fora os gastos “secretos” do próprio governo. A Presidência tem gastos “secretos”, caros foliões. Tudo isso pode derrubar a cotação do seu humor. Melhor ocupar a mente com a crise alheia que procurar um derivativo nacional.

Vai que a mente deriva para a energia. Energia suficiente para correr atrás de tantos blocos. Blocos, energia.

Bloco parlamentar...

PMDB... energia. Pronto, está lá você pensando na ocupação da área de energia pelos indicados do PMDB.

O partido, de notórios prática e valores, quer a presidência da Eletrobrás. E o fluxo de liquidez da diretoria financeira.

O risco-país pode subirlhe à cabeça se você for atrás do trio elétrico das nomeações. Vá atrás de outros trios, mas cuidado com a trilha sonora. Se sair por aí cantando, evite o “Meu coração amanheceu pegando fogo, fogo, fogo!!!”.

Risco, risco, risco.

As perigosas associações do cérebro o levarão à Amazônia. Isso vai atrapalhar sua folia, ou seu descanso, com a lembrança das palavras do Nosso Guia. Ele se aborreceu com a notícia do satélite, absolveu o bloco dos sujos do desmatamento e disse que tudo é culpa dos dados científicos. Assim, ninguém consegue relaxar e goz... Ôps... Com esse derivativo você vai flutuar para o perigoso tema do caos aéreo.

Por isso pense na crise alheia e se fantasie de grande investidor internacional preocupado com os fundos das empresas seguradoras de títulos e resgate seus ativos dessa sociedade geral de assuntos que podem desfalcar sua alegria.

Afinal, você pode estar feliz por ser, depois de anos de espera, o proprietário de um apartamento que acabou de comprar nos módicos juros de TR mais 12% ao ano. Nunca antes na História deste país! Está bem que o mundo não compra uma hipoteca usada de um brasileiro.

Nos Estados Unidos, eles estão sendo despejados por não pagar hipotecas com taxas bem mais baixas.

Risco em alta neste carnaval.

Um simples “Oi” para um velho amigo pode aborrecê-lo. Evite a palavra “Oi”. Pode criar uma fusão de idéias de tendências baixistas do humor.

Duas teles decidiram se fundir, mas, para isso, precisam de uma nova lei e do velho BNDES. Simples: encomendam uma lei novinha em folha que permita o que era proibido e passam na sempre generosa Avenida Chile. O governo vai mudar a lei e vai usar o seu, o meu, o nosso para financiar os capitalistas brasileiros.

Assim farão uma grande telecom verde-eamarela.

Lembram-se da grande cervejaria verde-eamarela? Virou belga! Negócio, negócio; bandeiras à parte.

Terceirize suas preocupações, jogue os aborrecimentos no mercado secundário, trate a crise como externalidade e aplique o saldo no mercado futuro. Assim, aproveite seu carnaval; seja no mato, seja na rua. Eu vou pro mato. De lá mando notícias da crise global, porque o mundo não pára.

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