Alguns economistas sustentam que a recessão americana vai ser longa e prolongada; outros, que será curta e não vai afetar severamente países com crescimento robusto, como a China, ou com sólidos fundamentos, como o Brasil.
Quem tem razão? A economia mundial mudou muito e ficou mais complexa. Alguns otimistas andam simplificando e raciocinando com categorias do passado.
Uma das teses otimistas está já ferida de morte: a de que as economias emergentes continuariam crescendo puxadas por seus mercados internos, e assim seria possível passar por uma recessão americana sem que isso afetasse o mundo. Seus defensores continuam mostrando dados como os de que as exportações da Índia e da China são um percentual pequeno — 2% e 7% — dos PIBs desses países.
Mas será que essa é a melhor forma de medir o impacto de uma economia na outra? A globalização descentralizou a produção.
Cada produto tem partes feitas nos mais diversos países, portanto uma mercadoria que chega aos Estados Unidos não foi fabricada apenas pelo país que a exportou. Essa complexa rede de comércio entre os países até o consumidor final não pode ser intuída apenas de um dado de exportação ponta a ponta, como se fazia com a economia antiga.
É difícil saber quanto da renda gerada no Brasil depende das exportações.
Muito do emprego e renda é resultado das encomendas feitas aqui dentro por empresas exportadoras a empresas que não exportam.
A abundante oferta de crédito, que elevou o consumo dos brasileiros, é fruto também da liquidez abundante no mundo.
Grande parte do aumento das exportações vem da alta das c om modities . Boa parte das vendas para outros países tem como destino final o mercado americano.
Assim sendo, é difícil calcular o efeito de uma retração da economia dos EUA sobre os países emergentes .
Alguns economistas sustentam que a recessão americana será curta. Por que seria curta, se ela está sendo detonada pelo reverso de um fenômeno que provocou prolongado e exuberante crescimento? Foi no crescimento do valor dos imóveis que os consumidores americanos sustentaram suas compras em todas as outras áreas, e essas compras é que sustentaram as compras internas e externas.
Agora os imóveis perdem valor, e há também americanos que estão simplesmente ficando sem casa.
Os despejos para a retomada do imóvel têm aumentando no país inteiro; em alguns estados, de forma espantosa. Em Maryland, os despejos aumentaram 499% no ano passado.
Lá o processo de retomada do imóvel é rápido, ao contrário do que é no Brasil, portanto a ameaça de perder o imóvel é real.
Muitas das hipotecas de alto risco foram concedidas com cláusula de revisão das taxas após dois anos. Isso significa que as concedidas em 2006 e no início de 2007, quando ainda se vivia a farra do crédito, vão ser renegociadas.
No total, em dezembro, o aumento do despejo já tinha chegado a 75% nos Estados Unidos. Esse dado pode continuar aumentando nos próximos meses. Até porque a previsão é que os preços das casas continuarão caindo, deixando milhões de americanos com uma dívida maior que o ativo.
A deterioração fiscal americana voltou a se ampliar.
As autoridades do país vinham argumentando que o déficit era grande, mas estava caindo e seria zerado. Numa conversa recente que tive com dois assistentes do atual secretário do Tesouro, Henry Paulson, foi o que ouvi: o déficit é declinante e está agora em 1,5% do PIB. Dois anos antes, tinha ouvido o mesmo de John Snow, o então secretário do Tesouro: que o déficit fiscal estava em queda.
Pois ele dobrou de 2007 para 2008, voltando a 2,9%, segundo a proposta de Orçamento da União divulgada por George W. Bush.
“Você está preparado para uma estagflação leve?” pergunta a revista “BusinessWeek”. A soma de estagnação com inflação é o terror dos bancos centrais. Mas esse é um cenário possível, pois a inflação está subindo em todos os indicadores americanos, e a queda dos juros e o pacote de estímulo fiscal vão demorar um pouco a fazer efeito.
O que divide pessimistas e otimistas atualmente é o grau de contaminação das economias locais pela recessão americana — hoje poucos são os que dela duvidam.
Um dos mais otimistas é o FMI, que acredita num crescimento de 4% no mundo, com uma desaceleração forte nos Estados Unidos, mas não recessão, e com queda leve do nível de atividade dos países emergentes.
Mesmo que os pessimistas estejam exagerando, eles ajudam a desmontar as simplificações de algumas teses que são geradas apressadamente pelo mercado financeiro. Além disso, deve-se esperar pelo melhor, mas reconhecendo o risco de que o pior aconteça .
Outros economistas estão fazendo estudos profundos para mostrar que os riscos que estão diante da economia mundial não são banais. Kenneth Rogoff, que foi economista-chefe do FMI, e Carmen Reinhart estudaram as recessões desde 1800. Em média, elas produziram perdas de 2% do PIB e duraram dois anos; os cinco casos mais severos provocaram perdas de 5% do PIB durante três anos. O texto deles começa dizendo que “a primeira grande crise do século XXI tem instrumentos esotéricos, reguladores desavisados e investidores nervosos”. Uma estranha mistura que mostra que esta crise tem novos e desconhecidos elementos.
Entrevista:O Estado inteligente
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