Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

A inflação caiu, mas..


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artigo - Roberto Macedo
O Estado de S. Paulo
21/2/2008

Vários índices mostram que a inflação começou em 2008 não tão mal como terminou em 2007, em alta. Em larga medida, isso veio dos preços dos alimentos, que agora estão crescendo com menor velocidade.

Digo que a inflação começou não tão mal este ano porque, em geral, os índices ainda mostram números elevados, cuja persistência seria incompatível com a política monetária do Banco Central (BC), que tem como centro de sua meta de inflação a taxa anual de 4,5%.

O índice meta dessa política é o IPCA do IBGE, de preços ao consumidor e nacional. Depois de taxas mensais de 0,38% em novembro e 0,74% em dezembro, em janeiro o resultado foi 0,54%, abaixo da expectativa do mercado financeiro, que levantamentos do BC colocavam perto de 0,6%. Mas, para não ultrapassar o centro da meta, o IPCA deveria ter taxas mensais médias de 0,365% ao mês ou menos. Ou seja, o IPCA ainda precisa cair bem mais e ficar aí.

Outro índice importante é o IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, no qual predominam preços por atacado observados atentamente pelos analistas, pois suas variações costumam prenunciar as do varejo. Além disso, variantes do IGP são usadas para indexar tarifas de serviços públicos, contratos de aluguel e dívidas de vários tipos, entre outros casos. Ora, no mês passado a taxa desse índice também caiu, mas para 0,99%, depois de valores ainda piores em novembro (1,05%) e dezembro (1,47%) de 2007. São números para todo mundo botar defeito, pois muito distantes de taxas confortáveis para o alcance da referida meta de 4,5% ao ano, mesmo que avaliada pelo IPCA.

Outro índice em queda, e que já atingiu uma taxa desse tipo, com dados de fevereiro, foi o de preços ao consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), levantado no Município de São Paulo. Divulgado semanalmente, mede a inflação a cada quatro semanas, relativamente a idêntico período anterior. Suas taxas recentes foram 0,47% e 0,82%, na última semana de novembro e de dezembro de 2007, respectivamente, 0,52% no último levantamento de janeiro, 0,30% na primeira semana de fevereiro e 0,22% na segunda. Entretanto, em face de diferenças de cobertura e de metodologia, o que se pode inferir do IPC-Fipe para o IPCA seria apenas uma tendência genérica de queda de taxas, que, se confirmada neste último índice, seria realmente uma boa notícia, desde que elas permanentemente alcançassem valores compatíveis com a não ultrapassagem do centro da meta do BC.

Um dos grandes motivos do interesse na taxa de inflação está ligado ao futuro da taxa básica de juros fixada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) do BC. Mas o Copom não olha apenas a inflação. Em particular, observa a atividade econômica e vê como inflacionário o aquecimento dela, além do que entende como o produto potencial da economia, a qual teria condições de crescer 4,5% ao ano sem causar esse problema. É uma visão objeto de controvérsia, mas é o Copom que manda na taxa básica, viu como a economia fechou em 2007 e as primeiras informações quanto ao seu desempenho em 2008 indicam que esse quadro permanece neste início de ano.

Nessas condições, o recente e ainda insuficiente alívio da inflação não prenuncia uma retomada de quedas da taxa básica de juros, embora dê força à posição, majoritária entre os analistas, de que essa taxa permanecerá inalterada em 11,25% nas próximas reuniões do Copom, uma previsão que alcança até o final de 2008, conforme o último levantamento do BC. No caso da inflação medida pelo IPCA, a previsão de sua taxa anual no fim de 2007 é de 4,39%, levemente abaixo da meta. Quanto ao crescimento da economia, a variação do seu PIB ao final de 2008 está prevista em 4,5%, abaixo do valor que se estima alcançado em 2007, um pouco acima de 5% ao ano. Como todas as previsões, estas têm margem de erro que se amplia à medida que contemplam horizontes mais distantes do momento atual.

Toda essa discussão que envolve inflação, crescimento e juros é objeto da chamada macroeconomia de curto prazo, que não se volta para questões de natureza estrutural que, se equacionadas, poderiam, a médio prazo, colaborar para um quadro bem mais favorável dessas variáveis. Entre elas desponta a política fiscal do governo, sobretudo o federal, ao arrecadar impostos, realizar gastos e se endividar. Propensa à gastança, essa política não colabora com o BC no combate à inflação. Ao contrário, incomoda-o ao aquecer ainda mais a demanda da economia, deixando, assim, de servir como contraponto à expansão do consumo das famílias e dos investimentos das empresas. Tal gastança, por sua vez, é custeada com elevadíssima carga tributária, que retira muito mais que o razoável desses agentes privados. Ora, isso impede que a economia cresça mais e exorcize o demônio do produto potencial mediante mais e fortes investimentos na expansão da capacidade produtiva, que esses grupos poderiam fazer, não fora a tamanha carga tributária que suportam e que o governo gasta sem privilegiar investimentos seus na mesma direção.

Nesse contexto, e supondo que o referido cenário levantado pelo BC se confirme, estamos diante de uma situação longe da ideal, ou seja, uma inflação próxima do centro da meta, que não dará ao Copom segurança para optar pela retomada da redução da ainda alta taxa básica de juros, e um crescimento que só agrada aos que se contentam com pouco.

Além de trombeteiros oficiais, esse grupo inclui aqueles que não viveram ou perderam da memória os períodos em que a economia brasileira cresceu muito mais e assim ignoram que poderia fazê-lo se seus governantes tivessem outras metas e fossem coerentes com esse objetivo.

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