Os nomes indicados até agora pela base aliada do governo para compor a CPI dos Cartões em princípio causam estranheza porque não condizem com a importância e o potencial problemático do tema.
A habitual disputa pelos lugares que garantem ao parlamentar visibilidade diária no noticiário neste caso não ocorreu. Ao contrário, difícil está sendo encontrar quem queira integrar a comissão mista.
A escolha de relator, presidente e os três deputados do PT colhidos no banco de reservas do time governista é auto-explicativa: as estrelas não estão dispostas a pôr as mãos nessa complicadíssima cumbuca.
Preferem ficar na retaguarda. Ajudando até, mas sem se arriscar a, de repente, serem obrigadas a defender o indefensável, expondo-se ao ridículo diante da opinião pública ou, então, arrumando briga com o governo inteiro.
Afinal, a depender do que apareça nas investigações, como defender gastos abusivos em cartões corporativos pagos com o dinheiro público? Só o que apareceu até agora, no exame superficial de apenas 11% das despesas expostas na internet, justifica a cautela.
Quem tem nome e eleitorado de opinião a zelar simplesmente se recusa a participar, com receio de que possam aparecer despesas absolutamente heterodoxas, o que deixaria os governistas numa sinuca daquelas sem solução possível a não ser ao custo de um grande desgaste pessoal. Nesse caso, melhor olhar de longe.
O relator indicado, Luiz Sérgio, é um desconhecido fora de seu Estado, o Rio. Foi líder do PT na Câmara e, na avaliação de boa parte da bancada, um líder fraco, mas um verdadeiro camicase quando se trata de defender o governo.
É tido entre seus pares como autoritário, beirando a truculência, e em várias situações de escândalo já se mostrou capaz de assumir as posições mais antipáticas sem se preocupar com a repercussão fora do Congresso.
Os outros indicados pelo PT, Cláudio Vignatti, Nilson Mourão e Paulo Teixeira, são figuras por enquanto secundárias, podendo, claro, vir a se destacar positiva ou negativamente.
O mesmo critério de escalação pautou a escolha do presidente da CPI, senador Neuto de Conto, indicado pelo PMDB e sem peso na ordem geral das coisas no Legislativo.
Suplente, não tem voto - portanto, não tem satisfações a prestar ao eleitorado - e não tem força política, o que faz dele uma peça de fácil remoção, caso seja necessário usar o posto para negociar com a oposição e entregar a ela a presidência da CPI.
Apesar do jogo duro nessa fase inicial, é bastante provável que as negociações evoluam para a divisão do comando da comissão. Inclusive porque ao governo não custará ceder o posto, visto que dispõe de maioria (15 dos 22 integrantes) suficientemente ampla para ganhar votações de requerimentos para convocação de depoentes, quebras de sigilos e requisição de documentos.
Essa vantagem explica em parte o esforço do governo em montar uma coalizão substancial, que nem sempre serve para ganhar brigas fundamentais no plenário, mas assegura uma tropa de defesa numerosa em situações como a de uma CPI complicada.
A quantidade, no entanto, não é garantia de nada. O PT, mesmo quando era oposição, tinha poucos parlamentares, perdia todas em plenário, mas não deixava de fazer misérias nas comissões.
Tudo vai depender da condução e, óbvio, dos fatos que aparecerem, principalmente na imprensa. São eles que levam uma comissão de inquérito ao fracasso ou ao sucesso.
Na CPI dos Correios o governo também tinha maioria, ocupou a presidência e a relatoria, mas não conseguiu evitar que o trabalho produzido naquela comissão resultasse num processo agora em tramitação no Supremo Tribunal Federal.
O alvo
O líder do governo no Senado, Romero Jucá, e a líder no Congresso, Roseana Sarney, terça-feira depois de uma reunião para tratar da condução da CPI disseram para quem quisesse ouvir que têm em seu arsenal faturas de despesas de R$ 45 mil do cartão corporativo de Fernando Henrique Cardoso, feitas na condição de ex-presidente.
Não fizeram juízo de valor sobre a regularidade ou irregularidade dos gastos, mas deixaram registrada a informação. No mínimo, para efeito de insinuação.
Ossos duros
Dois possíveis candidatos governistas à sucessão do presidente Lula circularam seus estilos em público nesta semana.
Ciro Gomes, pelo tom da discussão sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco no Senado com a atriz Letícia Sabatella e o bispo Luiz Flávio Cappio, continua o mesmo da eleição de 2002: diz o que pensa, sem concessões à maciez eleitoral.
Dilma Rousseff foi à festa de 28 anos do PT cheia de simpatia e gingado político. "Sou popular", disse. Mas quem a viu na entrevista sobre os cartões corporativos, agressiva e contundente, percebe que o modelo "paz e amor" de 2002 por ora não tem herdeiros para 2010.
A habitual disputa pelos lugares que garantem ao parlamentar visibilidade diária no noticiário neste caso não ocorreu. Ao contrário, difícil está sendo encontrar quem queira integrar a comissão mista.
A escolha de relator, presidente e os três deputados do PT colhidos no banco de reservas do time governista é auto-explicativa: as estrelas não estão dispostas a pôr as mãos nessa complicadíssima cumbuca.
Preferem ficar na retaguarda. Ajudando até, mas sem se arriscar a, de repente, serem obrigadas a defender o indefensável, expondo-se ao ridículo diante da opinião pública ou, então, arrumando briga com o governo inteiro.
Afinal, a depender do que apareça nas investigações, como defender gastos abusivos em cartões corporativos pagos com o dinheiro público? Só o que apareceu até agora, no exame superficial de apenas 11% das despesas expostas na internet, justifica a cautela.
Quem tem nome e eleitorado de opinião a zelar simplesmente se recusa a participar, com receio de que possam aparecer despesas absolutamente heterodoxas, o que deixaria os governistas numa sinuca daquelas sem solução possível a não ser ao custo de um grande desgaste pessoal. Nesse caso, melhor olhar de longe.
O relator indicado, Luiz Sérgio, é um desconhecido fora de seu Estado, o Rio. Foi líder do PT na Câmara e, na avaliação de boa parte da bancada, um líder fraco, mas um verdadeiro camicase quando se trata de defender o governo.
É tido entre seus pares como autoritário, beirando a truculência, e em várias situações de escândalo já se mostrou capaz de assumir as posições mais antipáticas sem se preocupar com a repercussão fora do Congresso.
Os outros indicados pelo PT, Cláudio Vignatti, Nilson Mourão e Paulo Teixeira, são figuras por enquanto secundárias, podendo, claro, vir a se destacar positiva ou negativamente.
O mesmo critério de escalação pautou a escolha do presidente da CPI, senador Neuto de Conto, indicado pelo PMDB e sem peso na ordem geral das coisas no Legislativo.
Suplente, não tem voto - portanto, não tem satisfações a prestar ao eleitorado - e não tem força política, o que faz dele uma peça de fácil remoção, caso seja necessário usar o posto para negociar com a oposição e entregar a ela a presidência da CPI.
Apesar do jogo duro nessa fase inicial, é bastante provável que as negociações evoluam para a divisão do comando da comissão. Inclusive porque ao governo não custará ceder o posto, visto que dispõe de maioria (15 dos 22 integrantes) suficientemente ampla para ganhar votações de requerimentos para convocação de depoentes, quebras de sigilos e requisição de documentos.
Essa vantagem explica em parte o esforço do governo em montar uma coalizão substancial, que nem sempre serve para ganhar brigas fundamentais no plenário, mas assegura uma tropa de defesa numerosa em situações como a de uma CPI complicada.
A quantidade, no entanto, não é garantia de nada. O PT, mesmo quando era oposição, tinha poucos parlamentares, perdia todas em plenário, mas não deixava de fazer misérias nas comissões.
Tudo vai depender da condução e, óbvio, dos fatos que aparecerem, principalmente na imprensa. São eles que levam uma comissão de inquérito ao fracasso ou ao sucesso.
Na CPI dos Correios o governo também tinha maioria, ocupou a presidência e a relatoria, mas não conseguiu evitar que o trabalho produzido naquela comissão resultasse num processo agora em tramitação no Supremo Tribunal Federal.
O alvo
O líder do governo no Senado, Romero Jucá, e a líder no Congresso, Roseana Sarney, terça-feira depois de uma reunião para tratar da condução da CPI disseram para quem quisesse ouvir que têm em seu arsenal faturas de despesas de R$ 45 mil do cartão corporativo de Fernando Henrique Cardoso, feitas na condição de ex-presidente.
Não fizeram juízo de valor sobre a regularidade ou irregularidade dos gastos, mas deixaram registrada a informação. No mínimo, para efeito de insinuação.
Ossos duros
Dois possíveis candidatos governistas à sucessão do presidente Lula circularam seus estilos em público nesta semana.
Ciro Gomes, pelo tom da discussão sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco no Senado com a atriz Letícia Sabatella e o bispo Luiz Flávio Cappio, continua o mesmo da eleição de 2002: diz o que pensa, sem concessões à maciez eleitoral.
Dilma Rousseff foi à festa de 28 anos do PT cheia de simpatia e gingado político. "Sou popular", disse. Mas quem a viu na entrevista sobre os cartões corporativos, agressiva e contundente, percebe que o modelo "paz e amor" de 2002 por ora não tem herdeiros para 2010.