Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 16, 2008

Celso Ming Setor ameaçado


O progresso é um destruidor de profissões e atividades econômicas - observou um economista consagrado: Joseph Schumpeter (1883-1950).

Já não há mais acendedores de lampiões, telegrafistas, limpadores de chaminés. Até mesmo os carregadores de malas nos aeroportos e nas estações ferroviárias estão em extinção. E é também esta a ameaça que paira sobre a ainda forte atividade das agências de viagens, que exibe 3 mil empresas cadastradas na Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav) e abocanha boa fatia do mercado de Turismo no Brasil. Este faturou no ano passado cerca de US$ 4,9 bilhões, que correspondem a um crescimento de 14,8% sobre o obtido no ano anterior.

Os pacotes de lazer e passagens aéreas, reservas em hotéis e serviços turísticos estão sendo cada vez mais contratados diretamente, entre fornecedores e clientes finais, por meio do computador ou, mais particularmente, pela internet. 

É um novo hábito estimulado pelas companhias aéreas e redes de hotéis, em nome da indispensável redução de custos, pois elimina pessoal de atendimento e, mais importante, corta a comissão de vendas repassada às agências, como observa o professor Adonai Teles, do Núcleo de Turismo da Fundação Getúlio Vargas.

Esse processo de esvaziamento está se apropriando de uma designação até recentemente exclusiva do mercado financeiro: "desintermediação".

O especialista Antônio Almeida, da consultoria AT Kearney, observa que "o uso da internet tornou mais segura e mais barata a relação entre usuário e empresa que oferece o serviço". Ele cita o caso dos sites de hotéis de todo o mundo, que permitem a reserva de diárias online e oferecem descontos e pacotes para múltiplos gostos. O resultado são preços mais baixos para o usuário final e aumento da margem de lucro dos fornecedores. 

"A desintermediação, no entanto, gera conflitos complexos, porque ameaça uma relação consolidada anos a fio, entre fornecedores e agentes de viagem, calcada em interesses construídos com altos investimentos", explica Teles. Daí o conflito armado entre as agências, de um lado, e companhias aéreas e empresas de hotelaria, de outro.

A Abav garante que cerca de 80% das passagens aéreas vendidas no Brasil ainda são comercializadas pelos agentes de viagem. O mercado nacional em 2007 registrou 49,9 milhões de desembarques nacionais e 6,4 milhões de desembarques internacionais e está em ascensão. É o que ainda garante um bom resultado para as agências.

Mas as coisas estão mudando. Desde janeiro, as passagens compradas diretamente do site da TAM estão isentas da comissão da agência. E as outras operadoras vão na mesma direção. "As aéreas precisam entender que o comissionamento é o pagamento de um serviço prestado pelos agentes", esperneia o presidente da Abav, Carlos Alberto Amorim Ferreira.

Embora não sirva de consolo, as agências de viagem não estão sozinhas. Qualquer setor que trabalhe com intermediação de informações, como o de corretores de seguros, enfrenta a sina verificada por Schumpeter. 

E qual é a saída? "Os bons agentes têm de se reinventar por meio da internet", recomenda Teles.

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