O Estado de S. Paulo |
13/2/2008 |
O governo está tranqüilo: arrebatou da oposição a bandeira da CPI dos Cartões, conseguiu do PSDB um acordo de blindagem ao presidente da República e seu entorno, lançou no ar a forte suspeita de que a Agência Brasileira de Informações (Abin) está de posse de irregularidades ocorridas no governo Fernando Henrique. Pegou de jeito o governo de José Serra, que pode ter as contas corretas, mas não deu a elas a publicidade devida e, mais uma vez, pregou na testa dos tucanos o carimbo de oposição marca barbante, que não age e se comporta sempre como se tivesse algo a dever. Agora os oposicionistas correm a protestar porque o governo reivindica o que lhe é de direito por ter a maioria: a presidência e a relatoria da CPI. Ou não sabiam disso antes de fechar o acordo? O jogo governista é à vera. A oposição, se não quiser acabar sendo responsabilizada pelo acentuado aroma de orégano que se espalha no ar, precisará arquivar o medo ou deixar a CPI para lá antes que saia dela pior do que está entrando. Açodado, menino de tudo diante da “expertise” do espertíssimo líder do governo, Romero Jucá, o tucano Carlos Sampaio saiu correndo para firmar um acordo cuja conveniência em tudo e por tudo atende àqueles que seriam, em tese, os menos interessados na CPI. De investigados, cheios de culpas no cartório a prestar, passaram, em 20 minutos - o tempo que Sampaio levou para ser engolido por Jucá -, a parceiros na investigação. Justiça seja feita ao deputado Carlos Sampaio, teve em seu afã para conseguir arrancar uma CPI mista de qualquer jeito a gentil colaboração de tucanos e democratas que se apressaram em concordar com a esdrúxula tese de que em família oficial não se mexe. Não se observou o mesmo espírito caseiro quando, logo no início da campanha presidencial de 2006, Lu Alckmin, mulher do candidato do PSDB à Presidência, passou meses tendo as contas de seus vestidos discutidas em praça pública. Segundo o estilista, ela recebeu doações de guarda-roupa que, de fato, mereciam divulgação e reparos. Presentes de quantias elevadas são vedados a autoridades. Como as jóias que Marisa Letícia da Silva logo no início do primeiro governo do marido ganhou numa viagem ao oriente. Na ocasião, divulgou-se que ela devolveria ou daria algum destino não particular às jóias, mas nunca mais se soube do caso. Se a mulher do presidente não incorporou as jóias ao patrimônio, fez o que deveria ser feito. As críticas e cobranças a parentes de autoridades não significam ofensas, não traduzem intenções golpistas, não representam invasão de privacidade. São normais e habituais nas nações socialmente desenvolvidas. Não há regra que reze serem intocáveis os parentes de presidentes. Descontados os casos em que realmente não há ligação alguma com a delegação pública primeira de zelar pelo bem coletivo, tudo o mais está submetido ao princípio da publicidade. Inclusive porque não há vestibular para divindade para os presidentes e seus familiares e não é improvável nem é impossível que algum deles cometa irregularidades ou até mesmo crimes. E se nas contas da Presidência houver algum gasto com compra indevida, a sociedade ficará sem saber disso? Indispensável verificar. Quando aceita o escambo como pressuposto da investigação, o PSDB está primeiro, emitindo um péssimo sinal sobre suas pretensões de voltar ao poder; segundo, confirmando que tem algo a esconder; terceiro, estabelecendo como princípio a CPI perfunctória, para não dizer de perfumaria; quarto, conferindo salvaguarda ao generalato, deixando eventuais punições à soldadesca; quinto, caindo mais uma vez na arapuca da mão estendida que, na primeira oportunidade, já foi mordida. Isonomia Faz sentido a CPI dos Cartões incluir nas investigações o governo anterior. Qualquer informação a respeito da conduta de governantes é útil. Mas, por esse critério, não faz sentido deixar de fora as contas das administrações de José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Se não, fica parecendo que a história do Brasil se resume aos governos do PT e do PSDB e que é verídico o dito segundo o qual a cada 15 anos o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores. De prontidão O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Felix - “Para nós quanto menor a transparência, maior é o grau de segurança” -, está para o caso dos cartões corporativos como esteve seu antecessor, general Alberto Cardoso, para o episódio das fitas com as gravações dos grampos no BNDES. Para não assumir que agentes da Abin tinham feito as gravações, o general avalizou a inverossímil versão de que tinham sido achadas “debaixo de um viaduto” em Brasília. Agora o general Félix foi escalado para atribuir caráter de segurança nacional a gastos com carnes exóticas e outros balangandãs. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 13, 2008
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