Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 10, 2008

DANUZA LEÃO

O amor e o poder


A nudez pública da namorada do presidente é, no mínimo, embaraçosa. Sarkozy deu prova de ser audacioso

MESMO COM o Carnaval pegando fogo, não consegui me desligar do affair Sarkozy/Carla Bruni. Como estava em Paris no momento do primeiro encontro (público) dos pombinhos, na Eurodisney, e nas viagens que se seguiram, segui de perto o caso pelos jornais europeus, que aliás não deram trégua. Na primeira coletiva do ano, o presidente disse aos 600 jornalistas presentes que o caso era sério e que, se houvesse casamento, eles só saberiam depois -e assim foi feito. Desde o início do romance, a popularidade do presidente caiu sete pontos.
Grande parte dos franceses aceita, sem drama, as infidelidades conjugais, mas delas não se fala; vide François Mitterrand, que teve uma filha fora do casamento, mas o fato só foi sabido depois de sua morte. Há cerca de dois anos a ex de Sarkozy, Cecilia, abandonou o marido para viver uma história de amor em Nova York, com direito à capa de revista e tudo; um mês depois foi recebida de volta ao lar sem nenhum problema.
Houve a campanha eleitoral, Sarkozy ganhou as eleições, mesmo sem o voto de sua mulher no segundo turno, e não demorou para, já primeira-dama da França, Cecilia pedir o divórcio.
O romance do já presidente com a ex-modelo começou três meses mais tarde, e sete semanas depois, houve o casamento. Acontece que Carla, antes de conhecer Sarkozy, havia posado -nua- para uma revista espanhola. A nudez pública da namorada do presidente de um país é, no mínimo, embaraçosa. Pois Sarkozy deu prova de ser audacioso, ousado e, sobretudo, provocador: dias depois das fotos serem publicadas no mundo inteiro, a imprensa foi informada do casamento, realizado numa cerimônia íntima no Elysée.
Paixão? Pode até ser, mas é claro que essa união deve ter tido um delicioso sabor de vingança, em relação a sua ex, Cecilia, que deixou o marido duas vezes diante do país inteiro. Abandonos, quanto mais públicos, mais ferem.
E Carla? Bonita, uma carreira de cantora e compositora mais para o medíocre, conseguiu chegar a um posto com o qual jamais teria ousado sonhar. Ambiciosa ela é, pois a lista dos seus casos, só com homens famosos, inclui Donald Trump -e esse, francamente, não dá. Além disso, sua vida era bem alegre; viajava o tempo todo, fazia o que queria, e é exatamente aí que entra minha curiosidade.
É claro que Sarkozy deve ter seus charmes, ao quais ser um dos homens mais importantes do mundo só acrescenta. Mas ele é também muito ocupado; faz viagens relâmpago pela França e ao exterior, e eu queria muito saber da primeira manhã de Carla no Elysée. Ele a abraça, dá um beijo, e sai para trabalhar; ela fica na cama, cercada pelos veludos e dourados do palácio presidencial; faz o quê? Liga para uma amiga e convida para conhecer seu novo lar? Ou lembra de ter visto uma bolsa em uma loja e sai para comprar -com cinco seguranças e um punhado de paparazzi atrás? Nos primeiros dias pode até ser engraçado, mas durante cinco anos? E a vida oficial? Quando Sarkozy for jantar com o prefeito de Lyon, Carla também vai, para conversar com a esposa? Fácil não vai ser, divertido, menos ainda -e Carla Bruni não tem nada em comum com Bernadette Chirac.
Quem deve estar se mordendo é a ex, Cecilia, e torcendo para ver o circo pegar fogo. Porque esse circo vai pegar fogo; não sei como nem quando, mas é só esperar.
A França está mudando muito rápido, e o resultado das eleições municipais deste ano vai dizer o que os franceses estão achando dessas mudanças. Quem deve estar adorando é Ségolène Royal.

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