A Pesquisa CNT/Sensus divulgada segunda-feira mostrou que o presidente Lula obteve em fevereiro o maior índice de aprovação do seu governo. Nada menos que 52,7% dos entrevistados entenderam que o governo é ótimo ou bom.
Essa goleada tem uma explicação: o eleitor está dizendo que a política econômica está correta. É a inflação sob controle que reduz o desgaste do poder aquisitivo; é o salário mais alto e mais opções de emprego que ajudam a reforçar o orçamento familiar; é o dólar relativamente barato que aumenta as opções de consumo. Em troca, o consumidor, o assalariado e o povão mostram-se predispostos a dar nota boa. Na hora certa, isso conta voto.
Pode-se dizer que o presidente Lula não produziu nada de novo na macroeconomia. Mas o fator que realmente conta é o de que seu governo não fez nenhuma grande besteira. Ao contrário, sempre que besouraram nas orelhas dele que era preciso derrubar os juros na marra; desvalorizar o real; acabar com o superávit primário (sobra de arrecadação para pagar a dívida); demitir o Meirelles da presidência do Banco Central; e mudar a política macroeconômica, Lula fez que não era com ele. Não só manteve tudo como está, como também chegou a dizer, para indignados dirigentes do MST, que o principal representante das esquerdas em seu governo é o doutor Meirelles.
A título de contraponto, nessa relação delicada entre administração pública e sustentação política, pelo menos dois dos presidenciáveis que mais comparecem às pesquisas de intenção de voto ostentam uma ficha de críticas à atual política econômica.
O governador paulista, o tucano José Serra, por exemplo, até recentemente não perdia oportunidade para atacar "o câmbio fora do lugar e a política dos juros errada". Ele insiste em que a política macroeconômica tem de ser revista, seja o que isso signifique.
As manifestações do governador contrariam o próprio PSDB que, em suas mensagens partidárias, repete que o presidente Lula copiou a política econômica do presidente Fernando Henrique. Está dizendo, enfim, que a política está certa. Se o governador Serra insiste em dizer o contrário, como já dizia nos tempos de ministro do governo FHC, então fica entendido que, se ele levar a Presidência em 2010, pretende desmanchar pelo menos parte do que até agora vem dando certo.
O outro pré-candidato conhecido pelas críticas à atual política é o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE).
Nos tempos em que comboiava o professor de Harvard e atual ministro Mangabeira Unger, defendia uma drástica renegociação da dívida pública, que levava cheiro e jeito de calote. Logo se viu que coisas assim não são necessárias. A própria dívida não passa hoje de 42% do PIB e os juros vão caindo na proporção permitida pela inflação. Em todo o caso, Ciro Gomes já deu indicações de que também não gosta do que está aí.
Mas até onde vai esta política econômica? O que dá para dizer é que, se depois dessa crise ferrada pela qual vai passando a economia global, a situação do Brasil permanecer tão sólida como está agora, será difícil encontrar político capaz de mudar tudo. O medo da reação do eleitor pode contar mais do que conta agora.
Confira
Marca ultrapassada - Os preços do petróleo para entrega em março passaram ontem dos US$ 100 por barril de 159 litros. Como acontece com os desastres de avião, essas coisas não ocorrem em razão de um único fator. Mas, desta vez, o empurrão mais forte foi dado por especulações sobre a redução da produção a ser decidida na próxima reunião da Opep, marcada para 5 de março.
Foi o que bastou para reforçar nos Estados Unidos a percepção de que, além de atrapalhar a recuperação da economia, a nova alta vai jogar mais combustível na inflação. E foi o que derrubou as bolsas.