O professor Demetrios Christofidis é doutor em Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília e membro do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Ele adverte o que é quase uma obviedade, mas nem por isso menos decisivo na produção: a quebra de safras por falta de chuvas só pode ser evitada com o uso racional da irrigação. "É uma temeridade assinar contratos futuros de fornecimento de alimentos sem saber se vai ou não haver produção." Em outras palavras, a irrigação deve ser tratada como um seguro contra a falta de chuvas.
Christofidis explica que cada hectare cultivado por irrigação tem desempenho produtivo 3,3 vezes superior ao cultivado pelo método tradicional, que espera as chuvas que São Pedro manda. O retorno econômico pode aumentar até 4,5 vezes.
O potencial da irrigação no Brasil é alto. É de 26 milhões de hectares que, se tiverem essa cobertura, podem alçar o País à condição de grande exportador mundial de alimentos.
A proporção de culturas irrigadas no Brasil é ainda muito baixa, de cerca de 8% da área de 47,7 milhões de hectares cultivados. No entanto, nada menos que 35% do PIB agrícola de 2007, de R$ 567 bilhões, veio da agricultura irrigada.
Pouca gente se dá conta do enorme volume de água exigido na produção de alimentos. Cada quilo de arroz, por exemplo, precisa para sua produção de 1,6 mil litros de água doce. Para o milho, são 650 litros e para o trigo, 1,6 mil. Para cada quilo de carne bovina, vão até 43 mil litros, considerado aí também o uso no frigorífico. (Ver tabela.)
Garantir a expansão das áreas irrigadas sem prejudicar as reservas naturais é enorme desafio. No Brasil, mais de 50% da área irrigada usa a técnica da inundação, que desperdiça até 60% da água em vazamentos e evaporação. Isso significa que a agricultura nacional precisa avançar na eficiência de práticas voltadas ao manejo de irrigação e drenagem agrícola.
Mas isso não é tudo. Para ser considerado um país com suficiência hídrica e reservas para a agricultura, a oferta de água renovável precisa ser superior a 1,7 mil m³ por habitante ao ano, ou 4,65 mil litros por cada pessoa ao dia. Somente a produção de alimentos consome cerca de 70% de toda a água doce do planeta.
No País, a oferta ultrapassa os 42 mil m³ por habitante ao ano. Apenas para comparar, na Venezuela, são cerca de 57,8 mil m³ e na Argentina, 27,8 mil m³. Mesmo assim, alguns Estados (como Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe) vivem em alerta de escassez hídrica. Sem gestão da água não conseguirão desenvolver a agricultura e a pecuária.
E há o fator ambiental. Mesmo sendo este um país com boas reservas de água doce, as mudanças climáticas podem castigar a produção agrícola brasileira. O Relatório de Desenvolvimento Humano deste ano, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), afirma que a América Latina terá seu potencial de produção agrícola reduzido em 13% até 2080, caso as mudanças climáticas não sejam controladas.