O que se viu nessa crise é que bancões famosos por sua capacidade de gerenciar imensos volumes de dinheiro, administrados como se supunha pelas melhores cabeças financeiras do mundo, de repente sucumbiram miseravelmente.
Por que não pularam fora tão logo ficou clara a encrenca em que se meteram? E por que organismos de supervisão nos Estados Unidos, cuja primeira obrigação é zelar pelas condições de saúde (higidez) do sistema financeiro, assistiram passivos a essa degringolada?
No último dia 11, esta coluna tratou do erro grave de avaliação de risco nas operações de financiamento hipotecário para clientes sem capacidade de pagamento. Para resumir, os bancos terceirizaram tanto a tomada de recursos no mercado que se destinariam aos financiamentos imobiliários (para as Structured Investment Vehicles, SIVs) como as próprias operações de crédito (para as sociedades de crédito imobiliário ou equivalentes). E, julgando-se imunes a riscos, alavancaram o quanto puderam suas operações.
Mas veio a inadimplência, a execução das hipotecas, a derrubada dos preços dos imóveis e a corrida dos investidores que exigiram o resgate das suas cotas nas SIVs. De repente, não havia mais mercado secundário para esses recebíveis. E aí, para não verem sua reputação deteriorada, os bancos se viram na obrigação de resgatar essas cotas. E, assim, ficaram sepultados sob créditos hipotecários não honrados.
O desastre não aconteceu apenas por ganância e barbeiragem dos bancos; ou/e por inoperância das instituições encarregadas de fiscalizá-los e supervisioná-los. Aconteceu, também, por desconhecimento da existência de uma ameaça nova: risco de reputação. É o risco de que o banco fique entalado porque não quer passar vergonha.
O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, defende o enquadramento desse risco nos critérios de Basiléia, que definem a segurança das operações bancárias. Mas vá saber como isso funcionaria.
Seria ótimo se Meirelles pudesse dizer aos banqueiros de todo o mundo como calcular as provisões destinadas a dar cobertura para uma coisa tão etérea como essa. Se ninguém neste planeta está em condições de dizer quanto valem os ativos que estão colocando em risco a saúde e a reputação dos bancos, também fica difícil aferir o tamanho dessas provisões.
Ficou sabido nas últimas semanas que os cada vez mais sofisticados sistemas de segurança eletrônica dos bancos podem ser burlados com relativa facilidade. Foi o que ocorreu no segundo maior banco francês, o Société Générale, cujos administradores não conseguiram enxergar operações de nada menos que US$ 50 bilhões, que provocaram perdas de US$ 7,2 bilhões, como as feitas por Jérôme Kerviel, funcionário de terceiro escalão.
E, outra vez, essas coisas estão acontecendo porque o mercado financeiro globalizado tocado à velocidade da luz está mudando a noção de risco, sem que velhos lobos do mar se tenham dado conta disso.