O Estado de S. Paulo |
12/2/2008 |
A reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos Sete (G-7, países mais ricos do mundo), realizada no sábado, não trouxe conclusões práticas imediatas, como já se esperava. Mas teve avaliações desconcertantes. No pronunciamento feito logo após o fim da reunião, o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrück, afirmou que as perdas dos bancos com ativos ligados a créditos subprime devem alcançar US$ 400 bilhões. Ficou entendido que esse cálculo é do G-7 ou, pelo menos, é um número levado em conta lá dentro. Já se sabia que as perdas dos bancos com essa crise são de difícil mensuração, porque não há como apontar um valor presente confiável desses ativos. Quando um banco desconta uma nota promissória, uma duplicata ou um recebível de prazo curto é relativamente fácil estabelecer o valor desses papéis. Basta arbitrar os juros que prevalecerão no período. No entanto, os títulos do segmento subprime são hipotecas correspondentes a empréstimos para tomadores que podem ou não passar calote, em dívidas (imobiliárias) com prazo de 20 a 30 anos para serem pagas, sob garantias (os próprios imóveis) que podem ou não perder valor no mercado. (Hoje estão perdendo, mas em dois ou três anos os preços podem ter-se recuperado.) Além disso, na ponta das aplicações estão as cotas de fundos, os tais Structured Investment Vehicles (SIVs), de funcionamento complicado, que até mesmo gente traquejada em finanças tem dificuldade de entender. Assim, os tais US$ 400 bilhões apontados por Steinbrück surpreendem pela magnitude. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mesmo levando em conta as dificuldades para uma avaliação realista, havia estimado essas perdas em alguma coisa entre US$ 120 bilhões e US$ 150 bilhões, e não acima do triplo disso, como disse o ministro alemão. Como os bancos já acusaram perdas em torno dos US$ 120 bilhões, tinha-se que o processo de ajuste estava avançado. Mas, se elas podem chegar a US$ 400 bilhões, é inevitável um longo caminho a percorrer até o saneamento final. Em todo o caso, se for mesmo isso, ou se, por outro, as perdas forem de substancialmente mais do que os US$ 150 bilhões com que trabalha o Fed, então os bancos americanos terão de buscar mais capitais para o ajuste patrimonial. Isso significa que os fundos soberanos dos países emergentes e dos exportadores de petróleo serão chamados a subscrever uma parcela muito maior do capital dos grandes bancos americanos, movimento que terá impacto estratégico relevante no jogo mundial. No entanto, uma vez admitido um prejuízo muito mais elevado do que o esperado até agora e enquanto o saneamento desses bancos não ocorrer, é provável que se aprofunde a crise de crédito, outro prognóstico anunciado pelo G-7. Bancos não emprestarão dinheiro a outros bancos enquanto não ficar explícito o tamanho dos problemas patrimoniais. E os próprios aplicadores relutarão em confiar dinheiro a bancos sob suspeita. Mas crise de crédito não significa que falta dinheiro para crédito. Grandes fusões estão em processo. Todas elas prevêem enormes financiamentos bancários. Confira Brasil no foco - A imprensa global dispara flashes sobre o bom momento da economia brasileira. O megainvestidor Warren Buffett não esconde que está comprando em real. E o Financial Times diz que a economia brasileira mostra surpreendente resistência à crise. Os títulos do Tesouro americano já não atraem como antes porque o dólar cai, os juros estão achatados e a inflação está em alta. Ninguém investe em subprime e as ações lá fora seguem vacilando. Seria questão de lógica se mais dinheiro tomasse o rumo dos ativos do Brasil. |
Entrevista:O Estado inteligente
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