Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 17, 2008

celso Ming O real e seus mitos




A economia mundial completou seis meses de crise e de turbulências nos mercados e, no entanto, o real mantém-se forte, não só em relação ao dólar, mas, também, a
E não se pode dizer que isso ocorreu porque o Banco Central fez o jogo da valorização da moeda. Ao contrário, ele operou na direção oposta. De julho (inclusive) até dia 14, as reservas cresceram US$ 41,2 bilhões e chegaram a níveis há alguns anos inimagináveis, de US$ 188,3 bilhões.

Esse número não equivale ao total das compras de moeda estrangeira pelo Banco Central no período porque a variação das reservas, tanto para mais como para menos, depende também de outros fatores: alteração do valor de mercado dos títulos, incorporação das receitas de juros, pagamentos externos, etc. Mas esse crescimento atesta a agressividade da atuação do Banco Central na área. Não fossem as compras, a cotação do dólar no câmbio interno provavelmente estaria bem mais próxima de R$ 1,50.

O real mostra força não só porque o dólar está perdendo substância nos mercados internacionais de câmbio ou porque o comércio exterior brasileiro continua tendo excelente desempenho. Mostra força porque a economia emergente do Brasil, relativamente descolada da crise, atrai investimentos externos e aplicações em ativos de renda fixa. Assim, mais dólares desembarcam por aqui e, por efeito da lei da oferta e da procura, derrubam as cotações do câmbio.

Os analistas internacionais não escondem o que vêem. Há uma semana, o principal jornal europeu de economia, o Financial Times, publicou editorial em que foi louvada a imunidade às turbulências demonstrada pela economia brasileira. E, semanas antes, o multibilionário Warren Buffett alardeou que estava comprado em reais.

A boa situação do real desmente dois mitos repetidos em todos os encontros de economistas excessivamente presos aos padrões de análise do passado.

Um desses mitos é o de que a política cambial brasileira é populista e oportunista. Populista porque estaria baseada na manipulação dos juros de maneira a forçar a derrubada da inflação, para passar a impressão de que a vida melhorou para o consumidor de baixa renda. E oportunista na medida em que estaria surfando na bonança internacional, sem aproveitar a ocasião para preparar a economia para os dias ruins que estariam próximos.

Populismo cambial não é compatível com o atual ritmo de crescimento das reservas. E a tese do oportunismo não tem sustentação, pois os dias ruins já têm pelo menos seis meses e, no entanto, o real continua mostrando vigor.

Além disso, os juros ainda altos não são obstáculo sério para o crescimento da atividade econômica, hoje entre 4,5% e 5,2% ao ano, o dobro do que se via há uma década. 

O outro mito desmentido é o de que a valorização do real produziria inexorável desindustrialização e sucateamento do setor produtivo nacional. Estão aí as estatísticas. Se não é exuberante, a atividade industrial é pelo menos robusta e espraiada o suficiente para garantir crescimento nunca visto dos investimentos. E demonstra que esse câmbio não está conseguindo matar a indústria.

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