Por linhas tortas, como Deus escreve, o governo Lula começa a lidar direito com a proposta de compra da mineradora suíça Xstrata pela Vale.
A primeira reação ao projeto de incorporação foi carregada de um viés xenófobo, no pressuposto de que o negócio contrariaria os interesses do País. Foi quando amplos setores dentro do governo entenderam que era preciso vetar a compra porque o projeto prevê o pagamento de uma parcela próxima de US$ 35 bilhões em ações preferenciais da Vale, fato que poderia forçar a transferência para o exterior do centro de decisões da empresa.
Antes de prosseguir, alguns dados preliminares. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo, cujos negócios se concentram na exportação de minério de ferro extraído da província mineral de Carajás (sul do Pará). A Xstrata, controlada por capitais suíços, é a quinta. Fatura mais de US$ 30 bilhões por ano e seu valor de mercado ultrapassa os US$ 80 bilhões. Conta com um leque mais amplo do mercado de minerais: zinco, cobre, níquel e carvão.
A Vale considera estratégico o negócio na medida em que garante a desconcentração de suas atividades hoje excessivamente dependentes das vicissitudes do minério de ferro.
Além do pagamento em ações preferenciais, a transferência do controle da Xstrata para a Vale implica pagamento de cerca de US$ 50 bilhões, a serem obtidos por meio de empréstimos levantados junto a um pool de bancos internacionais.
O risco de transferência do controle acionário da Vale é um argumento sem pé nem cabeça porque, por definição, ações preferenciais não dão direito a voto. Os tais nacionalistas verde-amarelos temem, também, que o aumento das atividades no exterior prejudique os investimentos dentro do País.
Um grande contingente de petistas hoje no governo ostenta longa ficha de má vontade em relação à Vale. Essa gente entendeu que a privatização da empresa durante o governo Fernando Henrique foi um ato entreguista, que prefere chamar de "privataria".
Não entendeu que, não fosse a privatização, a Vale não teria conseguido o porte patrimonial de hoje porque seu antigo controlador, o Tesouro Nacional, não dispunha e não dispõe de recursos para isso. A Vale também não teria incorporado a Inco, a mineradora canadense de níquel, nem se candidataria a comprar a Xstrata.
Agora que compreendeu que vetar o negócio é servir o guisado para os chineses e seus bilhões de dólares, o governo Lula parece em condições de rever seu conceito estreito do que seja interesse nacional.
Este não é aquele que se identifica com o jogo particular de empresários brasileiros, como o de Daniel Dantas na telefonia. Defender o interesse nacional também não é proteger fábricas obsoletas contra a concorrência chinesa, "sempre desleal".
Chega o momento em que a empresa brasileira precisa se expandir pelo mundo para não definhar aqui dentro. É o que está acontecendo, até um pouco tarde, com Petrobrás, Vale, Embraer, Gerdau, Votorantim e outras.
Para entender isso é preciso ter do processo de globalização uma visão mais realista e mais profunda do que a que vêm tendo certos segmentos preconceituosos da velha esquerda brasileira.
Entrevista:O Estado inteligente
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