Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 03, 2008

Alberto Tamer EUA entram no caminho certo

Nesta semana, o governo, o Congresso e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) entraram de corpo inteiro na batalha contra a recessão. É uma espécie de frente unida para reativar a economia, que, agora sim, começa a registrar os primeiros efeitos da crise.

O PIB, que havia aumentado 4,9% no terceiro trimestre do ano passado, recuou para 0,6% no último; e, em janeiro, o nível de emprego também deu sinais perigosos de fraqueza.

O mercado e os analistas estão avaliando ainda os possíveis resultados positivos dessa união de forças. Todos louvam a ação conjunta dos dois poderes e do Fed, considerada um primeiro passo, criticam a hesitação e o atraso, mas esperam uma reação positiva. Isso, porém, deverá tardar ainda algum tempo para ser sentido, mesmo porque os cheques do pacote somente começarão a ser emitidos após a aprovação do Congresso e a repercussão dos juros leva algum tempo.

A dúvida era se tudo isso seria suficiente para evitar o pior.

JURO E CÂMBIO, A RECEITA

No fundo, o caminho inicial parece residir em uma associação de juro menor e dólar menos valorizado, os dois em queda. O primeiro estimula o consumo e o segundo, as exportações. Ambos têm o efeito de gerar mais produção para atender aos mercados interno e externo e, em conseqüência, gerar mais emprego, mais consumo e crescimento.

Há riscos? Sim, a inflação, mas o Fed já optou por ela em lugar da recessão. O que importa, agora, é reanimar a economia e evitar que despenque ladeira abaixo. E isso passa, em parte, pela ação conjunta de juro e câmbio. Depois, eles irão cuidar dos preços. É um desafio do qual o Fed e o governo americano, decididamente, não podem escapar.

E OS INVESTIMENTOS?

Juro menor implica rendimento menor para os investidores e o sistema financeiro americano está precisando urgentemente de multidões de dólares! Sim e não. Sim, porque juro menor remunera menos e pode afastar investidores; não, porque os ativos financeiros e outros estão desvalorizados em dólares e a revitalização da economia americana os tornará mais rentáveis quando o mercado ressurgir. Hoje, apesar da crise, está provado que investir nos EUA é um bom negócio. Querem ver?

US$ 414 BILHÕES

Levantamento da Thomson Financial informa que, no ano passado, US$ 414 bilhões em investimentos irrigaram a economia americana. É muito? É. É 90% de tudo o que os estrangeiros investiram nos EUA em 2006. E vai continuar. Só nas duas primeiras semanas de janeiro, entraram US$ 22,6 bilhões na compra ou participação em empresas americanas. Esse movimento foi mais acentuado no sistema financeiro, com a necessidade urgente de capitalização de grandes bancos.

Mas não é só por aí que corre esse rio de dinheiro. Gigantes internacionais como a Toyota Motor e a Sony vêm injetando dólares nas fábricas de suas filiais americanas. Em 2007, foram US$ 43,3 bilhões, acima dos US$ 39,2 bilhões no ano anterior. Nada menos que cinco milhões de americanos trabalham hoje em empresas estrangeiras nos EUA e, vejam bem, elas pagam 30% mais do que as similares locais, fortalecendo o mercado de consumo.

"Isso é um voto de confiança na economia e no trabalhador americano", afirma o subsecretário do Tesouro, Robert Kimmit.

MARÉ INVERTIDA

Antes, as empresas americanas tinham investido US$ 6 trilhões no exterior, em ações e outros ativos, de acordo com o Departamento do Tesouro; agora, os investimentos externos estão vindo para os EUA.

Alguns chegaram antes da crise, outros no fim do ano para socorrer grandes bancos. Só os fundos soberanos enviaram US$ 21,5 bilhões em 2007. E continuam ansiosos em busca de novas oportunidades.

Há dinheiro? Só os fundos soberanos, que têm recursos do governo de seus países, têm mais de US$ 2 trilhões e devem chegar a US$ 3 trilhões nos próximos anos. E, nesta crise que reduziu o valor dos ativos americanos, as oportunidades estão nos EUA.

Desta vez, não estamos diante daquele festival adoidado dos japoneses, na década de 80, quando eles compraram de tudo nos EUA - estúdios cinematográficos, times de futebol e até o Rockfeller Center. Não criaram nada.

Agora são recursos que estão sendo investidos, na maior parte, não em ativos do mercado financeiro - eles também são importantes para a economia, sim - , mas em setores produtivos que geram empregos e riqueza.

A conclusão é a de que os EUA estão entrando no caminho que pode superar a crise que eles mesmos geraram. A verdade é que, apesar de toda a turbulência, a economia mundial desacelera, mas ainda mantém dinamismo.

A recuperação vai tardar, mas já está a caminho.

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