FOLHA DE S PAULO
O passado exerce um peso às vezes insuportável sobre o comportamento do homem. Muito já se escreveu sobre esse tema aplicado às mais variadas áreas da atividade humana. Submetido às experiências do passado, o futuro muitas vezes escapa da compreensão dos que vivem o momento presente. Perdem-se com isso as grandes mudanças que ocorrem nas sociedades. E aqueles que conseguem enxergar à frente passam por sonhadores ou analistas incompetentes.
Creio que vivemos essa situação no Brasil de hoje. Falo mais especificamente sobre as mudanças que estão ocorrendo em partes importantes de nossa economia, principalmente em nossas contas externas. O passado de crises -que se iniciavam com a escassez de dólares e, em seguida, forçavam uma desvalorização brutal de nossa moeda- ainda povoa o imaginário dos agentes econômicos.
A reação das autoridades econômicas em momentos como este sempre foi a de aumentar os juros de maneira agressiva, para provocar um ajuste na conta corrente e lutar contra a inflação que se seguia ao colapso da moeda. Por isso essa mania de dizer que os juros reais no Brasil nunca podem ser inferiores a 10% ao ano. Isso aconteceu principalmente devido à ocorrência recorrente de crises cambiais.
Vivemos agora, como já alertei várias vezes, uma situação externa totalmente diversa da que prevaleceu nas últimas décadas. Temos uma sobra estrutural de moedas fortes na nossa balança de pagamentos. Isso já ocorreu em 2005, vai se repetir em 2006 e, na ausência de algum fato imprevisível hoje, pode continuar a existir ao longo dos próximos anos. Essa nova bonança pode ser atribuída a vários fatores. Cito aqui três deles.
O primeiro, e talvez o mais importante, foi a mudança estrutural na economia global que o desenvolvimento econômico da China e a nova forma de operar sua economia provocaram. O segundo pode ser atribuído a uma nova onda de progresso tecnológico. E, finalmente, há os frutos que estão sendo colhidos no Brasil depois de mais de uma década de uma política econômica responsável e do aprofundamento da abertura para o mercado externo.
Essa nova realidade, que os marcados pelo passado não conseguem ver, está criando novas oportunidades e novos desafios. Como sempre, o setor privado saiu à frente e transformou-se no principal agente dessa verdadeira revolução. Já o governo ficou a reboque e insiste em práticas que respondem mais aos desafios de um passado que não mais existe do que aos colocados pelo futuro.
O exemplo mais marcante disso é o nosso Banco Central, que, perdido na sua incapacidade de entender o tempo presente, refugia-se numa ortodoxia desatualizada e ineficiente. Evidência disso são suas ações na condução da política monetária e na operação desastrada de uma intervenção no câmbio que ninguém entende. Juros elevadíssimos e sobra estrutural de dólares certamente não combinam.
Essa nova situação externa do Brasil precisa ser discutida em profundidade, pois os problemas -bons problemas, como costumo dizer- a ela associados são diferentes dos enfrentados no passado. O primeiro passo na busca de uma solução exige uma certa lavagem cerebral para a retirada dos padrões de análise anteriores. Um segundo passo é entender que esse novo paradigma da economia mundial veio para ficar e que se alguma coisa vai acontecer no futuro é o seu aprofundamento.
A tomada de consciência de que um novo Brasil é possível começou com os investidores externos; entretanto ainda não é consenso aqui dentro. Por isso a pressão para apreciação da taxa de câmbio é quase insuportável e o chamado risco Brasil não pára de melhorar. Mas cabe a nós, brasileiros, entender esses novos tempos e pensar no que fazer internamente -e há muita coisa a ser feita- para que a sociedade como um todo se beneficie dessa nova chance.
Como já disse em artigo anterior, sinto uma grande semelhança entre 2006 e 1966, quando ainda vivíamos o fim do mandato do primeiro general ditador...
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