Quando Alan Greenspan encerrar hoje o expediente na presidência do Federal Reserve, o Banco Central americano, será fechado um ciclo histórico. Com 79 anos, 18 dos quais à frente do Fed, mandato só inferior ao de McChesney Martin Jr. (1951-70), Greenspan se aposenta talvez como o mais influente dos zeladores da política monetária americana, um ícone mundial. O desafio de substituí-lo caberá a Ben Bernanke, 52 anos, acadêmico com a experiência de ter sido da equipe de diretores do Fed, e conhecedor dos meandros da Casa Branca, por chefiar a assessoria econômica de George W. Bush.
As quase duas décadas da Era Greenspan se constituem num compêndio de exercício do poder. Nos anos 90, escudado na independência legal do Fed, resistiu a pressões de George Bush, republicano como ele, para afrouxar os juros enquanto tentava se reeleger e ficar na Casa Branca. Em vão. O Fed se manteve firme, os preços cederam, junto com a perda de ritmo da economia. E republicanos culparam Greenspan pela vitória do democrata Clinton. O que não impediu, anos depois, o filho de George mantê-lo no cargo.
Greenspan deu fartas demonstrações de competência técnica. Por exemplo, ao vislumbrar os ganhos de produtividade por trás da revolução digital, enquanto apontava os riscos da “exuberância irracional” da bolha especulativa inflada a partir de meados da década de 90 em Wall Street. Mas os elogios nunca foram unânimes. Não se deixa, porém, de reconhecer que sob Greenspan a economia americana passou por um dos seus mais longos ciclos contínuos de crescimento.
Para administrar a herança de Greenspan, Bernanke, além dos conhecimentos técnicos que domina, precisará contar também com alguma sensibilidade como a que Greenspan trouxe da vivência de músico de jazz na juventude.
À espera dele estão uma bolha especulativa no mercado imobiliário e um enorme desequilíbrio nas contas externas e internas americanas. Que só fecham por causa das aplicações das reservas internacionais da China, do bloco asiático em geral e da Índia. Ao lado disso, revelou-se sexta-feira que no último trimestre de 2005 a taxa anualizada de crescimento econômico dos Estados Unidos caiu de 4,1% para 1,1%. Ben Bernanke terá toda a torcida do mundo.