"Pelo jeito, acabou a pequena trégua que se tinha estabelecido entre governo e oposição.
Do lado do governo, o presidente Lula se animou com os resultados da pesquisa Ibope/IstoÉ divulgada na semana passada. Pelos dados, podemos ver que o presidente recuperou a vantagem sobre todos os outros candidatos, pelo menos no primeiro turno.
No segundo turno, Lula continua perdendo para o prefeito José Serra, mas a distância entre os dois diminuiu, se comparada à última pesquisa Ibope/CNI.
Tendo recuperado algum terreno, Lula lançou-se com apetite à campanha pela reeleição. Não recusa palanque. Outro dia, inaugurou até esqueleto de hospital na Baixada Fluminense.
As andanças eleitorais do presidente já receberam um alerta informal do futuro presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello.
Para ele, o presidente Lula deveria moderar seus atos de campanha, para não ser punido pelo uso da máquina pública em eleições ou por fazer campanha fora de hora.
Mas o presidente enfrenta agora a rebelião de seu próprio partido. O PT decidiu ontem votar contra a derrubada da verticalização. Se não houver mudança de última hora, a emenda deve ser votada hoje em primeiro turno na Câmara.
Lula precisa desesperadamente da derrubada da verticalização para propor a sério uma aliança com o PMDB. Mas o PT não consegue contrariar seu próprio temperamento. Quando não há uma crise, o PT inventa uma.
A oposição, por sua vez, acusou o golpe. Reconheceu que o presidente recuperou popularidade e voltou a ser extremamente competitivo na eleição.
Por isso mesmo, parece que a trégua acabou. Daqui para frente, é grossa pancadaria. Nas CPIs, foram quebrados sigilos de Paulo Okamoto, presidente do Sebrae e amigo do presidente Lula. Além disso, foi aprovada a convocação do advogado Roberto Teixeira, amigão do presidente e dono da casa onde Lula morou de graça durante algum tempo.
Mas a estrela da companhia é mesmo o ministro Antonio Palocci. A ida de Palocci à CPI dos Bingos inaugura uma fase nova nas relações entre Executivo e Legislativo no Brasil. Nunca, na história deste país, um ministro, sobretudo o ministro da Fazenda, compareceu a uma CPI, mesmo que este comparecimento esteja sendo disfarçado de "convite".
Daqui para frente, é campanha eleitoral. Em outras palavras, é pau puro."