Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 26, 2006

LUÍS NASSIF A indústria do cinema

folha de s paulo

 Na discussão sobre a TV digital, um dos pontos centrais é o da indústria do audiovisual -que tem na televisão, mundialmente, uma de suas maiores fontes de financiamento.
Nos últimos anos houve um boom no setor motivado pela entrada das produtoras de publicidade no mercado e pela criação de mecanismos de incentivo fiscal -a Lei do Audiovisual, a Lei Rouanet (de mecenato) e, mais recentemente, o Funcine, um fundo de investimento no cinema, regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), com incentivos fiscais que podem chegar a 68% do investimento.
Sócio de uma produtora e gestora de um fundo, gestor do Fundo Funcine da Rio Bravo, Thierry Perrone trabalhou dez anos em Paris em bancos de investimento e acompanhou o renascimento da indústria cinematográfica francesa. Por lá, a produção anual chega a 1 bilhão.
Perrone considera o modelo francês adequado para o Brasil. Lançado em 1981 pelo ministro da Cultura de François Miterrand, Jack Lang, começou a ser implementado em 1983, com forte intervenção no Estado nos aspectos econômicos. Foram criados diversos tipos de incentivo, as redes de televisão foram obrigadas a investir na produção nacional e os distribuidores incentivados a levarem os filmes franceses para o mundo, com o Estado investindo fortemente na promoção do filme francês no exterior.
Demorou 20 anos para pegar e custou caro, constata Perrone. Mas o investimento foi recompensado com a criação de empregos, pagamento de impostos e, principalmente, pela questão político-estratégica. Cultura é questão de Estado, diz ele.
Integram a cadeia de produção do filme a produção e distribuição, a exibição (as salas de cinema) e a indústria técnica (os laboratórios). O Brasil tem bons quadros em quase toda a cadeia produtiva do cinema. A entrada de publicitários no pedaço melhorou sensivelmente o acabamento técnico dos filmes. Existem bons diretores, bons criadores, bons laboratórios. Faltam roteiristas talentosos, que ficam na televisão aberta.
O maior problema é a escassez de salas de cinema. Existem 200 salas de cinema, uma para cada 90 mil habitantes. No México, a proporção é de uma para cada 33 mil. Na Argentina, uma para 40 mil. Na França, uma para cada 9.000 habitantes. Com a escassez de salas, se um exibidor não consegue 40% de ocupação para um filme, imediatamente o tira de cartaz, porque tem mais quatro filmes esperando. Na França, com 25% de ocupação o filme fica. E existe o problema da distribuição . Por aqui, as "majors" (grandes empresas mundiais da área) têm 85% do mercado de distribuição, contra 15% das empresas nacionais. Na França, a proporção é inversa.
Hoje em dia, em um projeto de filme bem sucedido, 30% da receita vem do cinema, 50% do DVD e 20% da TV. Com raras exceções, não se pode contar com a exportação, a não ser em casos de filmes em co-produção internacional.

Barretão
Ao contrário do que publiquei na coluna "A troca de guarda no cinema", o produtor Luiz Carlos Barreto faz parte da banda profissionalizada do cinema brasileiro, apesar de insucessos eventuais, que fazem parte do jogo.

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