A tomada de comunidades pobres por milícias de policiais é um processo em expansão, primeiro constatado e revelado pelo GLOBO em março do ano passado. Já eram então 42 comunidades, em Jacarepaguá e na Barra da Tijuca, dominadas por 11 grupos (formados na maioria por policiais e ex-policiais, sendo seis chefiados por PMs). De início foram bem-vindos, por terem livrado os moradores do terror do narcotráfico; mas logo ficou claro que tinha havido apenas uma troca de tiranos. Passaram a cobrar “proteção” dos comerciantes locais, ao estilo da máfia, assassinando quem resistia.
De lá para cá, a situação se agravou, e muito. Há dois dias este jornal informou que, às 42 favelas dominadas por essas milícias, somaram-se outras 30. Totaliza mais de 200 mil pessoas a população da área onde imperam. Sua atividade não cessa de se expandir: já cobram taxas sobre venda de imóveis, fazem agiotagem e exploram centrais clandestinas de TV a cabo. Têm procedimento semelhante ao da máfia italiana, mas com uma diferença crucial: aqui são policiais. É o braço do Estado formado para dar proteção à sociedade, que se antes já exibia um alto grau de corrupção — a notória “banda podre” — agora praticamente institucionaliza a atividade marginal, dominando comunidades inteiras, que são vítimas de extorsão e violência.
Sem dúvida, é correto o diagnóstico do deputado petista Carlos Minc: nada disso poderia ter acontecido se o Estado não fosse omisso. Mas o remédio que ele propõe — criação de uma supercorregedoria para investigar a atuação de policiais nesses grupos — se necessário é também insuficiente. A questão ganhou tal dimensão que torna necessária a intervenção do poder central: Ministério Público, Executivo, Justiça e mesmo Congresso precisam agir para impedir que o poder dessas milícias cresça a ponto de, como é sua intenção, financiar campanhas de candidatos à Assembléia do Rio e até à Câmara dos Deputados.
Dificilmente terá a Alerj eficácia e disposição para atacar o problema com o vigor necessário. Todo o poderio do Estado precisa ser acionado para combater a bandidagem, fardada ou não, antes que esta concretize a ambição de ganhar representação política.