Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 28, 2006

ENTREVISTA:'Não há paz com o Hamas, não há paz sem o Hamas'

OESP

ENTREVISTA:'Não há paz com o Hamas, não há paz sem o Hamas'

Mark Heller: Pesquisador da Universidade de Tel-Aviv
Vitória do movimento de resistência islâmica é um desafio à idéia americana de democratização

Fred Paiva

O Hamas, como sabemos, é um grupo subdividido. Qual Hamas venceu as eleições na Palestina? Os vencedores aceitam o Estado de Israel?

Pode haver divisões internas, mas existe apenas um Hamas. Ele rejeita categoricamente o direito de Israel de existir como um Estado do povo judeu. Este é o âmago de sua visão de mundo ideológica e religiosa e explica por que o grupo veste crianças de sete ou oito anos com uniformes militares, lhes dá armas e lhes ensina que sua máxima ambição deve ser o martírio em cafés israelenses.

Por que os palestinos escolheram o Hamas?

O principal elemento foi um voto de protesto contra o mau governo e a corrupção da Fatah. Nem todos que votaram no Hamas endossam suas visões políticas, sociais ou religiosas.

O que significa um grupo terrorista no controle da polícia e outros aparelhos de um Estado?

Significa que a Autoridade Palestina terá de assumir a responsabilidade pelo que for feito.

Você poderia analisar o significado do triunfo do Hamas para: EUA; Europa; Israel e o mundo árabe?

A vitória do Hamas é um desafio à idéia americana de democratização, à idéia americana e européia de promover um acordo de paz israelense-palestino, à idéia israelense de compromisso com as negociações, à disposição dos governos árabes de responder a pressões por liberalização.

No mundo árabe, quem ganha e quem perde com a vitória do Hamas?

Os islâmicos em toda parte serão encorajados, mas eleições livres só ocorrem no mundo árabe sob ocupação ou forte influência estrangeira direta ou indireta, como no Iraque e na Palestina.

O Hamas no poder coincide com o "vácuo" no sistema político de Israel. Que tipo de influência o grupo poderá ter sobre a sucessão de Ariel Sharon?

Não há um vácuo no sistema político israelense. O Likud tentará apresentar isso como resultado do desengajamento e argumentar em favor do status quo. O Partido Trabalhista e o Kadima terão de recuar na preferência pelo "mapa da estrada" e pela negociação e ser mais explícitos quanto a medidas unilaterais. O Kadima provavelmente ficará mais forte, pois haverá um apoio público maior ao desengajamento em relação aos palestinos - geográfico e psicológico.

A chegada do Hamas ao poder tem alguma semelhança com a criação do Estado de Israel?

Não. O Estado israelense foi construído com a aceitação da partilha antes de 1948, enquanto o Hamas se apóia na tradicional rejeição da partilha pelos palestinos.

Há alguma expectativa de reversão da expansão do Hamas?

A Fatah passará um longo tempo na oposição. A expansão do Hamas poderá eventualmente ser revertida após anos de decepção do público com seu desempenho (como no Irã), mas só se houver influência externa suficiente para forçar o grupo a atuar segundo as regras democráticas.

Seria possível alcançar a paz no Oriente Médio sem o Hamas?

Arafat poderia ter feito isso, mas não quis. Abu Mazen queria, mas não pôde. O Hamas pode, mas não quer.

Com o Hamas no poder, é possível falar de paz?

Não há paz sem o Hamas, não há paz com o Hamas.

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