Por que os capitais não vêm |
25/1/2006 |
À s vésperas de mais uma reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, e da versão americana do 6º Fórum Social Mundial, em Caracas, a Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) divulgou um balanço do movimento mundial de capitais produtivos - com números desalentadores para a América Latina em geral e o Brasil em especial. Há uma espécie de simetria entre esses dados e a hegemonia da China e, secundariamente, da Índia na agenda deste ano da conferência de Davos, à qual o presidente Lula tomou a duvidosa decisão de não comparecer, abrindo mão da oportunidade de discursar na abertura da sessão dedicada ao comércio global. Menos imediato, pode haver também um nexo entre os números da Unctad e o dilema que parece dividir os participantes do Fórum Social: politizar-se mais, o que significará na prática servir de correia de transmissão do chavismo na América Latina, ou continuar a ser um evento livre da tutela de mentores aboletados no poder. Os números apresentados pela Unctad mostram que o fluxo dos investimentos diretos aumentou em média 29% no ano passado (e 38% no mundo desenvolvido). A variação em relação a 2004 foi de 13% nos países emergentes, 5% na América Latina - e menos 15% no Brasil. Além disso, o País voltou a ficar atrás do México. Ali ingressaram US$ 17,2 bilhões (4% a menos do que no ano interior, por sinal), ante US$ 15,5 bilhões aqui. A China recebeu cerca do quádruplo disso, acima da França, por exemplo. O investimento estrangeiro é o mais potente motor da integração chinesa à economia mundial (embora parte não desprezível dos recursos aplicados no país não seja propriamente estrangeiro, mas oriundo da miríade de empresas familiares chinesas no exterior, sobretudo nos EUA e na Ásia). De todo modo, ninguém ignora o tripé que sustenta o arranque chinês: crescente capacitação tecnológica, níveis estelares de produtividade - e condições de trabalho similares, para muitos milhões, às dos primórdios da Revolução Industrial no Ocidente. A cultura, para dizê-lo numa palavra, nunca fará da América Latina uma China tropical. Mas isso não explica por que o Brasil e os vizinhos, uns mais, outros menos, perderam posições em um ranking que deixa dramaticamente clara ainda uma vez a preferência dos países ricos por seus iguais, no destino dos investimentos privados. (A China é a exceção que confirma a regra.) É altamente provável que o já apenas moderado interesse em aplicar na América Latina tenha se retraído em razão do que se pode denominar "efeito Chávez" - a percepção de que os latino-americanos estariam cada vez mais propensos a eleger governos de um estilo terceiro-mundista que já parecia extinto no mundo em desenvolvimento, onde China e Índia são exemplos eloqüentes dos efeitos fantásticos da imunização da economia contra os vírus da ideologia e do nacionalismo "bandungsiano". Por suas inclinações populistas, ou por temor de derrotas eleitorais, o que vem a dar no mesmo, esses governos tendem a ter escasso apreço pela institucionalização dos imprescindíveis marcos regulatórios que de há muito são lana caprina no mundo desenvolvido e que atraem os investidores nos setores produtivos da economia, seja pela segurança que proporcionam, seja pela eliminação de custos irracionais nas suas operações, como os que derivam de entraves institucionais que não são removidos por razões políticas. Quando o investidor em potencial tem a impressão de que aos crônicos obstáculos estruturais à criação de riquezas nesta parte do mundo se soma a ascensão de elites dirigentes que são de uma incompetência exemplar e falam como se quisessem repor a pasta de dentes no tubo, a sua relutância em apostar na América Latina é plenamente compreensível. A agourenta combinação de um marxismo de Reader's Digest com o atual surto indigenista na política regional - a floração do atraso em sociedades já de si arcaicas - mais a estridente e anacrônica retórica nacionalista compõem um caso exemplar de desincentivo para o investidor; um breve contra o interesse do capital produtivo por novas oportunidades nessa zona de incertezas. É claro que nesta generalização sabemos distinguir as diferenças entre Brasil e Argentina e a Venezuela, para só ficar nos países que disputam a liderança na América do Sul. Mas lá fora, por enquanto, quem surge como líder é o coronel Hugo Chávez. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 25, 2006
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