"Parece que a novela político-eleitoral brasileira de 2006 está começando a chegar ao fim. Ontem, a Câmara dos Deputados aprovou, por 343 votos a favor, 143 contra e uma abstenção, a derrubada da verticalização.
A essa altura, não é mais necessário cansar os ouvintes. A verticalização é uma violência. É o delírio do burocrata de Brasília. Claro que não estou falando do morador de Brasília, este é um cidadão-contribuinte como todos nós.
Mas quem vê o mundo a partir de Brasília, é a favor da verticalização. Lá, tudo conspira a favor da centralização.
Em Brasília, tudo o que está do lado de fora é corrupto, inepto, ineficiente. O burocrata de Brasília considera que o Brasil só é inteligente a partir de Brasília.
Mas quem conhece a dureza da luta política nos estados e municípios, sabe muito bem que o burocrata de Brasília adoraria que o Brasil fosse uma República unitária.
O burocrata brasiliense ficaria encantado se não houvesse tantas diferenciações regionais, que ele não tivesse que lidar com tanto Brasil diferente, tão rico na sua diversidade.
A turma que vê o Brasil a partir de Brasília considera que os sotaques diferentes, o jeitão de cada região brasileira, a disputa econômica e política, tudo isso é uma bobagem de um Brasil arcaico, longe da modernidade.
Para o burocrata delirante, o Brasil moderno é uno, unitário, centralizado. Quase como o projeto do então coronel Albuquerque Lima, durante a ditadura, que queria acabar com os estados, assassinando a Federação, e redividindo o Brasil em regiões econômicas, como a Sudam, a Sudeco, a Sudesul.
Tudo isto foi delírio centralizador da ditadura. Mas, como muitas coisas daquele tempo, esta foi uma jequice, um mico.
Achar que o Brasil é igualzinho, a partir de Brasília, é mostra de um autoritarismo centralista, jeca e arcaico, coisa que nem o final do século XIX agüentava mais.
Por que será que a opinião localizada em Brasília considera que a verticalização vai conferir coerência ao sistema político brasileiro?
Modestamente, depois de estudar durante mais de 25 anos o sistema político brasileiro, eu acho que falta experiência vivida a essas pessoas. Considerar que o partido sediado em Brasília tem mais vivência que qualquer partido enraizado no município, é considerar a sociedade brasileira uma tonta.
Vamos ver como se comporta o eleitorado. Se aceitar a bobagem que o burocrata brasiliense tenta lhe fornecer, coitada dela. Se ousar pensar autonomamente, pode errar, mas vai ousar. E voto é audácia, é esperança, como dizia nosso inesquecível JK."