Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 26, 2006

DORA KRAMER: Lula forte favorece Alckmin

O ESTADO DE S PAULO

Governador acha que Serra não sai candidato se presidente estiver bem nas pesquisas

Dora Kramer

Pode parecer esquisito, mas os tucanos partidários da candidatura Geraldo Alckmin - e até mesmo o próprio - não consideram ruim que o presidente Luiz Inácio da Silva tenha se recuperado um pouco nas pesquisas de intenções de voto.

Na verdade, não achariam de todo mau se Lula crescesse um pouco mais ainda na preferência do eleitorado. Pelo menos daqui até fim de março, quando o PSDB decidirá entre o governador e o prefeito de São Paulo, José Serra, quem será o candidato do partido à Presidência da República.

Pelo raciocínio dos "alckmistas", se o presidente estiver com índices razoáveis, Serra hesitará, e muito provavelmente decidirá não deixar a Prefeitura para não se arriscar a pagar um preço político muito alto em nome de um projeto arriscado.

Em miúdos, digamos que o governador de São Paulo torce por Lula agora, convicto de que poderá derrotá-lo quando a campanha for de fato para a rua e a eleição fizer parte realmente do cotidiano da população - equivale a dizer, a partir do início do horário eleitoral, em agosto.

Nesse quadro, não haveria feridas internas a serem curadas ao longo da campanha, pois nem seriam abertas, em virtude da desistência de José Serra.

Antes de prosseguir no relato a respeito do que pensam os aliados de Geraldo Alckmin, convém esclarecer que é na cabeça deles que se passa a hipótese de Serra não cogitar da candidatura. No que concerne ao prefeito e seus partidários, os planos estão em franco andamento.

O grupo de Alckmin sustenta a esperança da possibilidade de um entendimento em função da desistência de Serra em mais alguns outros fatores, além da condição eleitoral de Lula.

Dizem que ele pesará e medirá muito o impacto popular da decisão de deixar a Prefeitura com um ano e pouco de mandato e depois de ter se comprometido com o eleitorado a ir até o fim.

Para fortalecer a tese, os adversários internos de Serra enaltecem seu desempenho na Prefeitura, dizendo que o paulistano não aceitará abrir mão de tão eficaz administrador.

Mas a análise não tem só sabor de mel. Inclui também amargo fel quando, em seguida, é acrescida do argumento segundo o qual "na eleição da ética" o prefeito irritará o eleitorado e dará armas ao inimigo se faltar com a palavra e for exposto por sua "mentira" (sim, a expressão usada é esta mesma, crua e direta).

De acordo com eles, Serra entregará a Lula razões para questionar sua honestidade de propósitos perante o eleitorado. O presidente-candidato, dizem, contestará a veracidade de todas as propostas lembrando que ele "quebrou" a promessa de ficar na Prefeitura até o fim do mandato.

Nessa interpretação do cenário, a candidatura do prefeito facilitaria até mesmo a campanha de Marta Suplicy para o governo de São Paulo, pois daria a ela as mesmas armas para questionar a validade da palavra de Serra.

Se o interlocutor hesita em dar tanto crédito assim ao peso dessa questão no âmbito de uma disputa nacional para a Presidência da República, pondera-se de pronto que "vocês em Brasília" não têm noção do potencial de dificuldade do tema.

Em resumo, os correligionários de Geraldo Alckmin contam com o temor de José Serra em trocar o certo pelo duvidoso e, nesse sentido, na fase atual tudo fazem para semear o terreno da incerteza sobre as chances de vitória da oposição.

Alta esfera

Ainda não está muito claro qual será o foro da decisão para a escolha entre Serra e Alckmin.

Os tucanos - todos eles - não gostam de prévias nem convenção. Consideram que votações e consultas expõem as divisões internas e provocam desgaste. Preferem resolver as coisas no aconchego do colégio de cardeais.

Como dois deles estão envolvidos na disputa, sobram para decidir Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e Aécio Neves, que tinham um encontro marcado amanhã em São Paulo. Como a informação se tornou pública, contava-se com a hipótese de um adiamento.

Em compensação

A preferência da bancada tucana federal por Geraldo Alckmin, registrada em pesquisa feita pelo Estado, terá como contraponto a recondução, em fevereiro, do deputado Jutahy Magalhães para a liderança do partido na Câmara.

Jutahy é serrista de quatro - quiçá de cinco - costados.

Para toda obra

Ontem de manhã, no vai-não-vai à CPI dos Bingos, o ministro Antônio Palocci alegou que não poderia ir por causa da reunião do Conselho Monetário Nacional.

Em dezembro, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apresentou o mesmo motivo para não comparecer à Comissão de Tributação e Finanças da Câmara.

Em matéria de pretexto, consolida-se uma preferência oficial.


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