Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 26, 2006

JANIO DE FREITAS O homem-bomba

folha de s paulo
 As tantas voltas dadas, sobretudo ontem, em torno do vai-não-vai do ministro Palocci à CPI dos Bingos terminaram por esclarecer, involuntariamente, as esquisitas alegações que condicionavam o horário do seu depoimento a um dia e hora convenientes à Bolsa.
A recusa de qualquer terça-feira argumentava que, assim no começo da semana, a inquirição poderia refletir-se "no mercado" por dias seguidos. Tidas as quartas-feiras (e olhe lá) como dia de sessão deliberativa na Câmara, o ministro a saltava para chegar ao mais conveniente: quinta-feira, e com início só ao fim da tarde, depois que o cassino da Bolsa encerrasse suas atividade e não se expusesse a reflexos da inquirição.
Argumentação, já à primeira vista, muito suspeita. Implicava o reconhecimento, pelo próprio Palocci, de que, ao responder sobre negócios à sua volta, quando prefeito de Ribeirão Preto e talvez no seu gabinete atual, corria o risco de abalar a Bolsa. Quem sabe de Palocci é Palocci, embora alguns dos seus assessores de antes e de agora também possam saber dele, mas declarar-se homem-bomba não combina com sua esperteza maneirosa.
Deu-se que os ACMs ficaram ontem aflitos com a sobreposição, hoje, do interrogatório de Palocci e o aniversário do neto ACM, esperado logo mais para apagar as velinhas em Salvador, na festança comandada pelo avô ACM. Foram necessárias reuniões senatoriais, discussões pefelistas e entendimentos com a Fazenda, para concluir se era possível adiar o depoimento do ministro.
Em vez de adiada, a sessão foi antecipada. A vê-la transferida para terça-feira, Palocci preferiu-a às 10h de hoje. E os seus cuidados com a Bolsa? O depoimento matinal coincide em cheio com a abertura e a continuação das transações do "mercado financeiro".
Ora, a Bolsa. As razões e desrazões deste ou daquele dia são outras, e esclareceram-se. A terça-feira não convinha a Palocci porque é dia de complementação das chegadas de parlamentares a Brasília, dia de casa cheia no Congresso, boa parte espicaçada nas bases para mostrar-se ativa. A quinta-feira preferida por Palocci já é dia de Congresso apagado, com a revoada que começa de manhã. No final da tarde, então, ou "depois de encerrada a Bolsa", o Congresso caberia em uma sala de dentista. E o horário seria péssimo para os vigilantes de televisão. Não pôde ser à tarde, que o avô ACM vai estar na Bahia, de manhã também já encontra a maioria a caminho do aeroporto.
Que Bolsa, que nada. Mas, com ou sem ela, o homem-bomba está tranqüilizado pelas promessas de simpatia feitas por senadores da oposição. Eles não querem arriscar, neste ano eleitoral, as doações de banqueiros e outros que têm milhões e bilhões de motivos para ser gratos a Palocci.


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