Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 25, 2006

A economia vai 'bombar' em 2006 Antonio Corrêa de Lacerda




O Estado de S. Paulo
25/1/2006

As previsões dos economistas são sempre questões tanto polêmicas quanto poucas vezes devidamente esclarecidas para a opinião pública. Por que elas nem sempre se confirmam? Qual o grau de segurança dessas previsões? Quais as fontes de informações mais confiáveis? - são algumas das questões mais recorrentes.

Na verdade, o que profissionais sérios economistas fazem, muitas vezes por dever de ofício, é realizar prognósticos - o termo é mais adequado do que previsões - baseados em premissas que formam um determinado cenário. Para isso, fazem uso da sua experiência profissional, de sua formação, de seu conhecimento teórico e da observação empírica das peculiaridades da economia brasileira e internacional. Muitas vezes também se utilizam de sofisticados modelos econométricos para simular impactos de determinadas variáveis.

Esse é um primeiro ponto muito importante. Os prognósticos baseiam-se em cenários, que consideram um conjunto de variáveis que não são controladas, não só porque imprevisíveis, mas também porque dependem das escolhas das políticas econômicas adotadas. A análise qualificada dessas variáveis e a assunção de prováveis trajetórias nos permitem fixar previamente as premissas do modelo tomado.

Ao prognosticar que a economia vai ter determinado desempenho em 2006, por exemplo, baseamo-nos, entre outros aspectos, no desempenho da economia mundial e seus efeitos, no comportamento das taxas de juros domésticas, nas expectativas para o desenvolvimento da inflação, etc. Também devemos considerar os prováveis efeitos políticos, já que se trata de um ano eleitoral, o que tende a fazer com que governos acelerem projetos, ativando investimentos públicos. De outro lado, se houver incertezas quanto à política econômica futura, isso também pode gerar especulação e afetar o conjunto das variáveis relevantes.

Essa questão nos permite vislumbrar o comportamento mais provável para a economia, inclusive construir cenários alternativos e atribuir probabilidades a eles. Ou seja, estimarmos quais desses cenários tenderão a ser mais ou menos prováveis. Mas esse é um processo que poderá se modificar em razão de alterações no quadro internacional e doméstico. Mesmo o uso de sofisticados modelos econométricos, embora possam dar mais segurança aos prognósticos, estão longe de garantir o acerto do resultado, simplesmente porque não se controla o desenvolvimento das suas variáveis determinantes.

Todo esse conjunto de ponderações e ressalvas aqui colocadas nem sempre fica claro para a opinião pública. A mídia, principalmente a especializada, poderia colaborar muito nesse sentido, deixando explícitas as premissas adotadas e as fragilidades dos modelos e seus prognósticos. Em geral, o máximo que se faz é comparar as "previsões" sobre o desempenho previsto para a economia de um ano atrás com o que de fato ocorreu, com grande destaque aos "erros dos economistas".

Depois de todas essas ponderações, sinto-me mais confortável para tentar argumentar sobre o título deste artigo, se é que o leitor teve paciência para chegar até aqui. Tomei emprestado no título o termo "bombar", utilizado pelos adolescentes e jovens para qualificar algo que vai ser muito bom. A mesma expressão também é utilizada para designar a reprovação escolar do aluno.

O mais provável é que este ano a economia brasileira crescerá cerca de 4%, a inflação ficará abaixo de 5% e a taxa básica de juros tenderá aos 13% ou 14% no final do ano. Os investimentos e a renda da população vão crescer e o desemprego vai diminuir. Muito ou pouco, bom ou ruim? Depende do referencial que tomarmos. É bom em relação ao nosso passado recente. Mas pouco ou ruim tendo em vista nossas necessidades, o cenário internacional benigno e o desempenho médio dos países. Façam suas escolhas!

*Antonio Corrêa de Lacerda, doutor em economia pela Unicamp, é professor-doutor da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Ed. Saraiva). E-mail: aclacerda@pucsp.br

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