ELIANE CANTANHÊDE Um por todos e todos por um

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 BRASÍLIA - A recepção do governo a Néstor Kirchner foi dessas para chefe de Estado nenhum botar defeito. Os presidentes da República (Lula), do Congresso (Renan e Aldo) e do Supremo (Nelson Jobim), além de dois ex-presidentes (Sarney e Itamar), estavam no almoço do Itamaraty, ontem, em homenagem ao argentino.
Essas presenças de peso têm toda uma simbologia na diplomacia, especialmente quando o homenageado é cheio de melindres, como Kirchner, e seu país está em franca posição desvantajosa comercialmente em relação ao Brasil -que teve um superávit recorde em 2005 nas trocas com a Argentina. Com um detalhe: o saldo foi o dobro de um ano para o outro.
Como isso é resultado do desequilíbrio econômico e industrial entre os dois países (a pobre Argentina saiu de 12 anos de Menem, ninguém agüenta!), há muito pouco a fazer. Mas os gestos são tudo na diplomacia, de preferência acompanhados de pitadas concretas. Como a aceitação da CAC (Cláusula de Adaptação Competitiva), que vai permitir formalmente aos dois países, mas na prática só à Argentina, aplicar salvaguardas automáticas sempre que um setor for dramaticamente afetado.
A prioridade do Brasil volta a ser o Mercosul, não pelo bloco em si, que anda periclitante, mas pelo que representa politicamente como pólo agregador de toda a América do Sul. São quatro países membros, mais a Venezuela e mais os "associados" Bolívia, Chile e Peru. Um fórum e tanto.
Na linha de "um por todos e todos por um", o Uruguai já anunciou que não há, em separado, um acordo de livre comércio à vista com os EUA. O Brasil comemorou.
Hoje, Lula se encontra com Kirchner e Chávez. No sábado, com Alejandro Toledo (Peru) e, no domingo, com todos eles na posse de Evo Morales (Bolívia). Tudo para criar laços, reforçar alianças e robustecer a América do Sul num ano decisivo para todos eles e particularmente para Lula. A política externa será uma das estrelas de seu palanque.

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