Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 19, 2006

VINICIUS TORRES FREIRE O bode dos aposentados

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SÃO PAULO - O déficit da Previdên cia cresce cada vez mais devagar. Como fatia do PIB, praticamente ficou estagnado desde 2003. De resto, nesses anos, o valor real do benefício cresceu (6,5%), e o número de beneficiados também (dois milhões e pouco).
Ainda se trata de muito dinheiro. A diferença entre a contribuição de trabalhadores e empresas e o valor de todas as aposentadorias ainda deixa a conta no vermelho em R$ 38 bilhões. Mas parece que já se pode tirar o bode dos aposentados do salão de faniquitos do debate econômico.
Não se trata de questão trivial, de fato, nem que se possa considerar apenas da perspectiva de três anos. Um aumento tresloucado do salário mínimo e uma recessão podem colocar vários bodes de volta na sala. Mas os dados mais recentes deveriam tirar os pobres aposentados da linha de tiro dos liberalóides.
Aposentado é gente pobre. Dois terços deles, 66%, recebem até um salário mínimo por mês. Dos que recebem o mínimo, 65% estão na previdência rural, uma bolsa-idoso que sustenta famílias e cidades inteiras, em especial no Nordeste, ou recebem assistência social, gente desprovida de tudo e incapacitada para o trabalho. Não se trata de previdência clássica, de contribuições para um fundo de aposentadoria, mas de um programa que contém a fome e o desespero da gente mais miúda do país.
Isto posto, as questões de decência humana e de cidadania elementares, um pouco de economia: dados os resultados desses três anos, é correto tratar as contas da Previdência apenas pela contabilidade? Houve estagnação relativa do déficit em uma economia que cresce miseráveis 2,5% ao ano, em que o desemprego nacional está em 9%. No médio prazo, prudência nos reajustes do mínimo e crescimento econômico de uns 4% permitirão que se pense a questão sem os faniquitos. Em tempo: a conta de juros de 2005 foi quatro vezes o déficit da Previdência.

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