EDITORIAIS DA FOLHA DE S PAULO

A GUINADA DE SHARON
 A decisão do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, de abandonar o seu partido, o Likud, e pedir a dissolução da Knesset (Parlamento), antecipando as eleições para o começo do próximo ano, sepulta décadas de bipartidarismo "de facto" em Israel. Sharon pretende disputar seu terceiro mandato como premiê à frente de um novo partido de centro, que leva provisoriamente o nome de Responsabilidade Nacional.
Pesquisas divulgadas ontem o dão como favorito para o pleito que deve ocorrer no final de março próximo. Pelas sondagens, a nova agremiação ficaria com algo entre 30 e 33 das 120 cadeiras da Knesset. Os trabalhistas (centro-esquerda) conservariam seus 26 assentos. O grande derrotado seria o Likud, que veria sua representação reduzida de 40 cadeiras para algo entre 12 e 15.
Pesquisas realizadas logo depois de anúncios dramáticos -como o de que Sharon abandonaria o Likud- precisam ser relativizadas. Mesmo assim, o apoio dos israelenses à política do premiê de retirar-se de Gaza e eventualmente negociar um acordo com os palestinos sobre a Cisjordânia é inequívoco. Sharon tem todas as condições de conseguir seu terceiro mandato. Ainda que não o obtenha, terá papel decisivo na tessitura da coalizão que deverá governar o país, já que nenhum partido deverá obter mais de 61 cadeiras.
O rompimento de Sharon com o Likud pode ser uma boa notícia para a paz. Ele marca a consolidação do premiê, que veio da direita do partido, como uma figura de centro. A partir de agora, será muito difícil para Sharon voltar atrás. Sem as amarras da ultradireita e dos religiosos do Likud, que acalentavam a idéia de reconquistar a Israel bíblica, ele estará mais livre para adotar posições pragmáticas, das quais a retirada de Gaza é o melhor exemplo.
Resta esperar que israelenses e palestinos, cada qual fazendo a sua parte, não desperdicem mais esta oportunidade que deverá surgir para a retomada das negociações de paz.