Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 30, 2005

ELIO GASPARI As leis da burocracia no apocalipse

O GLOBO


Em janeiro de 1969 o presidente Richard Nixon foi ao Pentágono e ouviu um número assustador. A máquina militar americana planejara-se para um ataque nuclear capaz de matar 80 milhões de russos em poucas horas (um ataque russo mataria a mesma quantidade de americanos). Nixon achou que não era racional começar a briga jogando três mil bombas na União Soviética.

Acabam de ser divulgados documentos que mostram as dificuldades que ele teve para lidar com esse superávit primário.

A ekipekonômica e os çábios do planejamento deveriam ler essa papelada. Ela mostra como uma burocracia resiste a qualquer mudança, inclusive aquela que pode salvar a vida dos burocratas.

Logo que soube do número, Nixon acionou a Primeira Lei do Poder:

"Quando o presidente quer mudar o que já existe, manda um assessor direto cuidar do assunto." E assim o caso foi para Henry Kissinger, seu assessor para assuntos de segurança nacional. O doutor pediu aos burocratas que lhe mandassem estudos para planejar a opção de um ataque gradual. Sonegaram-lhe o estudo da Força Aérea que admitia essa possibilidade.

Era a Segunda Lei: "A burocracia só guarda o que lhe interessa."

Kissinger respondeu com a Terceira Lei: "O que a máquina dos ministérios não quer fazer a gente faz no palácio." Atolou. O professor queria um plano para ser usado, por exemplo, caso a frota russa bombardeasse Israel. O Pentágono opunha-se à idéia por razões doutrinárias, mas valeu-se de duas outras Leis do Poder.

A Quarta: "Todo plano pronto é indivisível." Um ataque planejado para matar 80 milhões de pessoas não podia ser dividido em oito tranches de dez milhões de mortos.

A Quinta: "Tudo que é novo demora." Um ataque light, com vinte foguetes, levaria mais de 24 horas para ser acionado. Com três mil mísseis, bastariam vinte minutos.

Um ano depois da ordem de Nixon, a "estratégia do horror" continuava invicta. Tratava-se de baixar a conta de 80 milhões de mortos para 50 milhões, mas a revisão fora atingida pela Sexta Lei: "Quanto custa?" Com menos alvos seriam necessárias novas armas e mais verbas. Como o ataque já estava planejado, rever a estratégia significaria gastar dinheiro.

Em janeiro de 1978, passados nove anos do dia em que o presidente dos Estados Unidos se assustou com uma conta de 80 milhões de mortos, Jimmy Carter, novo inquilino da Casa Branca, repetiu o pedido. Começou tudo de novo, até que em 1989 a União Soviética virou fumaça.

Funcionara a Sétima Lei, também conhecida como Supremo Mandamento: "Nunca faça nada. As coisas importantes se resolvem por causa dos outros."

SERVIÇO:Um estudo do pesquisador William Burr sobre essa discussão estratégica está na página do National Security Archive, infelizmente em inglês:

http://www.gwu.edu/~nsarchiv/ NSAEBB/NSAEBB173/index.htm

ERROS: O artigo publicado neste espaço na semana passada tinha três erros. A avaliação do desempenho dos estudantes da rede escolar pública municipal de Sobral não os deixa sempre abaixo da média cearense.

Sobral ficou abaixo em matemática e acima em português. Nos dois casos, nos testes da quarta série.

A posição erradamente atribuída a Sobral se referia à região que leva o nome da cidade, formada por 20 municípios.

Os outros dois erros: O atual prefeito não é da família Ferreira Gomes. Ela deu cinco prefeitos à cidade durante o período republicano e não seis no último século.

ELIO GASPARI é jornalista.

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