FSP
A disputa entre a ministra Dilma Rousseff e o ministro Antonio Palocci Filho não terminou. Está apenas em fogo baixo. Prevaleceram as posições da Fazenda neste momento. Persiste, porém, elemento adicional de ruído para 2006.
A intensidade do debate diminuiu. O novo confronto em relação a uma possível influência que a Casa Civil teria sobre a execução do Orçamento na Junta de Execução Orçamentária não deve prosperar. A Fazenda continuará com poder para efetuar cortes nos gastos dos ministérios. A política econômica não muda em sua essência nos restantes 35 dias de 2005. E dificilmente sofre uma guinada em 2006.
Dilma não é a personagem do célebre conto "A Intrusa", de Borges. Tampouco existe um elo inquebrantável de amizade entre Lula e Palocci, como prevalecia entre os irmãos Christian e Eduardo, da obra de Borges. A amizade é o tema central do conto, como frisou em vida o autor. "Brigar com um dos irmãos era contar com dois inimigos", reza o mundo da ficção. Não costuma ser o caso no mundo real da política de Brasília.
Juliana, a verdadeira intrusa do conto de Borges, ameaçava a amizade dos irmãos Cristian e Eduardo. Da mesma forma como a mais sensual Karina (Alice Braga) separou os amigos de infância Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) no denso filme "Cidade Baixa", de Sérgio Machado.
Segundo Lula, Palocci fica até o fim do governo. Palocci, por sua vez, reafirmou sua condição de símbolo de racionalidade dentro do governo. Uma racionalidade limitada, dadas as inconsistências das demais políticas públicas e a absoluta ausência de um projeto que concilie austeridade macroeconômica e crescimento sustentado da economia no atual governo.
O mais provável é que realmente Palocci fique até o fim do governo. E depois? Seria possível que em um desejado segundo mandato o presidente flertasse com uma política econômica alternativa? O primeiro governo teria sido supostamente uma fase Campos Salles (presidente de 1898 a 1902 e que promoveu política austera). Um hipotético segundo mandato, uma "fase Rodrigues Alves" (presidente de 1902 a 1906, caracterizado pela política expansionista). Na verdade, tais especulações carecem de sentido. O primeiro governo Lula serviu apenas para consertar uma crise de confiança que o próprio PT provocou.
No conto de Borges, não há ambigüidade. A tensão entre os irmãos chega ao ápice e só há uma solução. Cristian elimina a razão da discórdia. Sacrificada a intrusa, tudo volta a ser como antes. Embora tenha sido superada a fase crítica de ataque à política econômica, a situação não retornou ao estado anterior ao conflito entre Dilma e Palocci.
No filme de Sérgio Machado, o triângulo amoroso se desenrola com intensidade comparável à trama de Borges. Da mesma forma, o genuíno laço de amizade é desafiado pela intrusa Karina. Mas o conflito não se encerra. A intrusa apenas lava o sangue dos contendores. Conflito e incerteza persistem.
O roteiro do governo Lula não tem nem de longe a mesma riqueza e intensidade. Várias ações carecem de sentido e coerência com objetivos declarados da administração. Objeções às teses centrais do governo são feitas freqüentemente pelas autoridades do próprio governo. Para, não raro, serem desautorizadas e desmentidas em seguida. E repetidas por outras ou às vezes pelas mesmas autoridades!
De comum com o excelente filme de Sérgio Machado, restam apenas o desfecho em aberto e o conflito latente. Os próximos meses serão marcados por mais disputas nessa luta contínua entre a racionalidade limitada da Fazenda e a irresponsabilidade declarada da Casa Civil. Os brasileiros já assistiram a esse filme. E o final não é feliz
Entrevista:O Estado inteligente
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