Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 29, 2005

LUÍS NASSIF A dama de ferro

FSP
Ontem, foi selado o fim da era Malan-Palocci na economia. Ao decidir manter o superávit primário em 4,25%, Luiz Inácio Lula da Silva tomou sua primeira decisão desde que assumiu o governo. Desceu do muro e acatou os argumentos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Não se pense em "gastança", populismo ou coisas do gênero. O que está em jogo é um avanço substancial e necessário na gestão orçamentária e de gastos do governo.
Palocci ganhou força por contraposição. Temiam-se loucuras fiscais, e ele aparecia como uma voz racional e articulada. Eleito o preferido do mercado, em breve tornou-se o super-ministro da economia, com seu poder sendo cevado por duas armas manjadas. Numa ponta, o festival de elogios do mercado; na outra, no uso inteligente de sofismas, de clichês já assimilados na discussão pública e da dramatização dos números como forma de manter o poder. O terrorismo do especialista, peça manjada mas ainda eficaz com pessoas leigas e impressionáveis como Luiz Inácio Lula da Silva.
Inteligente, atilado, porém dispersivo, o ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu não foi páreo para Palocci, porque não o enfrentou em seu terreno: o dos argumentos e sofismas e da retórica do terrorismo.
Indicada para a Casa Civil, Dilma mostrou estilo totalmente diferente. Percebeu imediatamente o lado mais pernicioso dos super-poderes da área econômica: as arbitrariedades na liberação de recursos, que colocavam todo o governo de joelhos ante a trinca Palocci-Paulo Bernardo-Joaquim Levy.
Uma vez definidos o Orçamento e os níveis de superávit, competia à área econômica azeitar a máquina, corrigir os problemas para a liberação de recursos, assessorar os ministérios com dificuldades em cumprir os trâmites burocráticos. Em vez disso, recorria-se ao manual do perfeito burocrata para criar empecilhos adicionais para a liberação de recursos.
Dilma levantou informações técnicas sobre o problema e foi expondo as fragilidades e os sofismas de Palocci. À medida que a desconstrução ia sendo tocada, Palocci foi ficando sem espaço para seu jogo de cena e de números. Culminou com uma reunião da Câmara de Política Econômica, em que Palocci tentou dramatizar números para preservar seu poder, e Dilma escancarou um rotundo "eu não agüento isso" -conforme relato da repórter Vera Rosa, de "O Estado de S. Paulo".
A decisão de Lula, de manter o superávit em 4,25%, demonstra que, desmascarado no campo da gestão de despesas, Palocci perdeu credibilidade na luta pelo superávit, sem a contrapartida da redução dos juros.
Há duas conseqüências imediatas. Do lado de Dilma, terá que responder implantando imediatamente sistemas de avaliação dos gastos públicos. Do lado de Palocci -ou de quem o suceder-, acabou o último pretexto para os juros altos. Antes, aumentavam-se os juros, porque se compensava com aumento de impostos. Depois, continuou a aumentar porque se podia elevar impunemente o superávit. Esse caminho também se fechou.
Agora, só resta baixar de fato os juros.

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