Quarta-feira, o IBGE divulgará o resultado das Contas Nacionais do terceiro trimestre. E daí será difícil sair notícia boa. Ao contrário, tudo indica que sairá uma queda do PIB entre 0,2% e 0,5%, em comparação com o do segundo trimestre.
A confirmação de que a atividade econômica andou para trás terá tudo para acirrar o clima de descontentamento com a receita comandada pela equipe econômica do governo Lula. Vão esquecer os bons indicadores sociais mostrados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) para dizer que o neoconvertido à ortodoxia, ministro Antonio Palocci, exagerou na penitência e seu escudeiro, Henrique Meirelles, também no afã de ser mais católico do que o papa, espremeu o consumidor mais do que devia.
Dá, também, para antever a defesa do miolo econômico do governo. Responderá que não cabe chorar o que passou; que a economia é um automóvel conduzido pelo pára-brisas dianteiro e não pelo espelho retrovisor; e que, se as estatísticas comprovam o arrocho, em compensação há um esplêndido amanhecer, conforme o clarão aponta no horizonte.
Quanto à acusação de terem passado do ponto na política de juros, os dirigentes do Banco Central dirão que, se isso fosse correto, a inflação do ano estaria apontando para números inferiores aos 5,1%, que é o centro perseguido da meta. E que, apesar da dureza monetária, a inflação está embicando para 5,5%, número em torno do qual giram as apostas dos agentes econômicos do País, como nos dá testemunho a Pesquisa Focus.
Dirão, também, que até o vice-presidente José Alencar reconhece, como reconheceu sexta-feira em meio a críticas ferozes à política econômica, que "muitas das medidas duras precisaram mesmo ser adotadas, para que houvesse sinalização de que o governo é responsável". Ou então, como também declarou Alencar, dirão que "a dose foi cavalar porque a desconfiança era cavalar".
Essas e outras considerações assim provavelmente não serão suficientes para aplacar a ira geral e os ataques à cúpula econômica e, então, se verá o quanto o presidente Lula continua disposto a renovar sua confiança na sua política e a escalar seu Ronaldinho Gaúcho, que é Palocci, na ponta de lança da economia do seu governo.
No mais, note-se o amargo conformismo com que o ministro Luiz Furlan, notável crítico da política cambial, reconhece que o Banco Central tem gastado uma enormidade com compra de moeda estrangeira e, no entanto, o dólar teima em escorregar ladeira abaixo, para desespero dos exportadores, que vêem seu faturamento em dólares derreter em reais.
Também já não há segurança de que, com os juros caindo, o real voltará a se desvalorizar diante do dólar, porque, apontam analistas, haverá sobras de dólares no câmbio interno, posto que o superávit comercial (exportações menos importações), em 2006, pode ficar acima dos US$ 35 bilhões, como também mostra a Pesquisa Focus.
Talvez falte testar outra arma contra o dólar fraco: mais empuxo nas importações. Mais importação de máquinas, produtos intermediários e bens de consumo ajudariam a reverter a trajetória do câmbio. Mas está aí a opção da qual os industriais não querem ouvir falar porque causaria inundação de produtos chineses no mercado interno, o que apressaria - dizem eles - o sucateamento da indústria nacional.
Enfim, se é para mudar, ninguém descobriu o que fazer com o câmbio e com a "desconfiança cavalar" que, segundo Alencar, ainda prevalece na economia.