FSP
Está prevista para hoje a terceira apresentação, neste mês, do ministro Antonio Palocci em uma das comissões ditas técnicas do Senado ou da Câmara. Convenhamos que é um despropósito, agravado pela inocuidade das perguntas tão amigáveis como das respostas tão fugidias. Mas já está prevista outra ida de Palocci ao Congresso, embora nem os convocadores nem o convocado estejam desejosos de fixar a data. Esta é, porém, a única das convocações que de fato se justifica, o que não quer dizer que seja aproveitada: seu tema são as suspeitas e as constatações de irregularidades que recaem já em volume muito grande, e gravidade idem, sobre a administração de Ribeirão Preto parcialmente conduzida por Antonio Palocci.
As investigações da polícia e do Ministério Público de São Paulo já coletaram indícios, para não dizer provas, que não podem continuar apenas pingando a cada dia no noticiário.
São vários tipos de tramóias financeiras, enriquecimentos velozes e inexplicados, prejuízos induzidos à prefeitura, com envolvimento de mais assessores do prefeito Palocci do que os já levados às CPIs. Não consta haver contra Palocci, no material investigado, senão as acusações feitas por Rogério Buratti e Vladimir Poleto. Mas estamos chegando à situação em que, de duas, uma: ou jornais, TV e revistas acabam com o pinga-pinga mal contido, e enfrentam o assunto problemático com responsabilidade e em sua dimensão plena, ou mídia e parlamentares dão-se os braços e relegam de vez o assunto.
Do modo como vai esse caso na mídia e no Congresso, Antonio Palocci sofre aos poucos o mesmo enfraquecimento político de que parlamentares e o jornalismo o querem poupar. O mesmo desgaste na opinião pública. Se a economia é passível de reflexos do problema, as cautelas do pinga-pinga não os evitam nem se sabe o que acabarão produzindo. E, afinal de contas, quem chefia uma equipe deve responsabilidades sobre os atos dos companheiros que escolheu para lhes entregar parcelas de poder.
Há inúmeros casos de governantes e governos que não enfrentaram, quando deviam, problemas assim. Não me ocorre caso cujo resultado recomende tal tática.
Constrangedor
Alguns ministros do Supremo Tribunal Federal desandaram a falar, ressentidos com a reação na Câmara e no Senado aos recentes julgamentos de recursos de José Dirceu. Caso seguissem a norma que cobram dos juízes de carreira -"juiz só fala no processo"- teriam, por certo, melhor resultado.
O ministro Eros Grau, por exemplo, respondeu que "é dever do Supremo prover a defesa de todos os cidadãos, inclusive os do Poder Legislativo". Sendo assim tão óbvio, por que, em seu voto original, se negou a prover o recurso de defesa pedido por José Dirceu, só o fazendo por uma posterior mudança de voto?
Segundo Nelson Jobim, "o Supremo não se constrange com nada. O STF tem uma tradição. Inclusive o regime militar não constrangeu o Supremo".
Então o regime militar não constrangeu o Supremo com a violência, por exemplo, da cassação de ministros da grandeza de Evandro Lins e Silva, Vitor Nunes Leal, Hermes Lima?
Despedida
Luiz Alberto Bahia era o último representante vivo da geração de editorialistas que se formou no imediato pós-Segunda Guerra, com figuras como Carlos Castello Branco, Antonio Callado, Otto Lara Resende, Lívio Xavier, Otto Maria Carpeaux, entre outros. O jornalismo de Bahia, diferentemente de quase todos os demais, guardou para sempre os traços próprios do editorialista -sem que isso signifique a falta da contundência pessoal. No Conselho Editorial da Folha, não perdeu, jamais, uma oportunidade de tratar, contrariado, do desmantelamento do sentido de Federação, no Brasil.
Sua paixão pela política levou-o a períodos fora do jornalismo, mas sem o abandonar de todo. Foi o vício que exerceu com dignidade.
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