OESP
A visita que o presidente George W. Bush fez ao Brasil no início do mês veio culminar uma série muito intensa de encontros entre ministros e altos funcionários de ambos os governos, inaugurada com a visita oficial do presidente Lula a Washington, em junho de 2003. O encontro dos dois presidentes em Brasília teve a marca da continuidade, mas de uma continuidade dinâmica e criativa. Na Granja do Torto se confirmou que a maturidade e a fluidez das relações bilaterais tornam viáveis importantes avanços, que se materializam não obstante a existência de expressivas diferenças de posições quanto a determinadas questões internacionais. Os dois presidentes proclamaram em termos inequívocos o excelente estado das relações bilaterais: o presidente Lula, ao dizer que, contrariamente ao que alguns previam no início de seu governo, as relações Brasil-Estados Unidos atravessam hoje "um de seus melhores momentos"; o presidente Bush, ao declarar que as relações dos Estados Unidos com o Brasil são "essenciais e robustas". Longe de constituir evento puramente protocolar, a visita aportou resultados concretos e palpáveis. Os presidentes decidiram pôr em marcha um diálogo estratégico sobre temas relevantes das agendas bilateral, regional e mundial (o Brasil é um dos poucos países no mundo com os quais os Estados Unidos mantêm um diálogo dessa natureza). Conforme registra a declaração conjunta que fizeram divulgar após o seu encontro de trabalho, os presidentes lançaram novos processos de cooperação em áreas de especial relevo: ciência e tecnologia, educação, saúde, meio ambiente, promoção do comércio e investimentos.Tais iniciativas vêm somar-se aos três grupos de trabalho (agricultura, energia e crescimento econômico) que haviam sido estabelecidos por ocasião da visita do presidente Lula a Washington, em junho de 2003. Saliento, em particular, o estabelecimento do grupo de trabalho para ampliação dos fluxos de comércio e investimentos entre os dois países, o qual deve contribuir para a realização do objetivo de aumentar substancialmente - idealmente até duplicar, para US$ 70 bilhões - o comércio bilateral até 2010. Com isto, poderá o Brasil ampliar sua participação - hoje demasiado modesta - no gigantesco mercado norte-americano (em 2004, as exportações brasileiras para os Estados Unidos, da ordem de US$ 21 bilhões, representaram apenas 1,4% do total importado por aquele país, que foi de quase US$ 1,5 trilhão). Outro fato que merece destaque foi a coincidência entre os dois presidentes quanto ao caráter decisivo da reforma dos mercados agrícolas nos países ricos para o êxito da rodada de negociações comerciais de Doha. Diferentemente do que ocorreu em rodadas passadas, o Brasil e os Estados Unidos presentemente convergem em ampla medida quanto a aspectos de importância central no processo negociador da Organização Mundial de Comércio (OMC). A qualidade do diálogo bilateral também se expressou na abordagem da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). De forma muito franca, o presidente Lula expôs ao presidente Bush a dificuldade brasileira (e do Mercosul) de marcar novos prazos para avançar nesse processo, enquanto não se tem uma definição do que será possível obter na Rodada de Doha. O presidente Bush demonstrou entender as motivações brasileiras e concordou com a visão de que as negociações na OMC são, neste momento, prioritárias. De outra parte, constitui um fato de especial significado para o Brasil o reconhecimento pelos Estados Unidos - pela primeira vez no mais alto nível, ou seja, na pessoa do próprio presidente Bush - de que os processos de integração da América do Sul constituem "importantes instrumentos para a promoção da prosperidade, estabilidade e democracia na região". Tal reconhecimento chega ao ponto de mencionar expressamente dois empreendimentos de significado decisivo para o Brasil e seus vizinhos, quais sejam, o Mercosul e a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). Quanto à reforma da Organização das Nações Unidas (ONU), é digno de nota o fato de que, embora subsistam diferenças nas posturas dos dois governos sobre o tema, o presidente Lula e o presidente Bush tenham enfatizado a necessidade de que a organização mundial se torne não apenas mais eficiente, como também mais "sintonizada com a realidade contemporânea", expressão que recolhe a preocupação brasileira quanto à maior representatividade nas instâncias decisórias da ONU. Ademais, os dois governos se comprometeram a manter "coordenação estreita" sobre a questão da reforma do Conselho de Segurança, com o reconhecimento, pelos Estados Unidos, de que esta constitui um "importante componente" da reforma das Nações Unidas. Constitui passo inédito e alvissareiro a decisão dos dois governos de atuarem conjuntamente no apoio à promoção da paz, da democracia e do desenvolvimento na África. Isso decorre, em grande parte, da tomada de consciência de um outro traço comum importante a aproximar o Brasil e os Estados Unidos, qual seja o de serem duas das poucas grandes democracias multiétnicas do mundo. A visita do presidente Bush a Brasília comprovou que, longe de serem apenas cordiais e corretas, as relações bilaterais são cada vez mais dinâmicas e diversificadas. Ganham crescentemente desenvoltura e densidade, e comprovam serem capazes de produzir efeitos benéficos não apenas no plano bilateral e regional, como também em direção a outros continentes e no tocante a variados temas da agenda global.
Roberto Abdenur, diplomata de carreira, é embaixador do Brasil nos Estados Unidos
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