O monetarismo foi uma influente escola de pensamento econômico nos anos 1970-80. Dizia que a oferta de moeda era o principal determinante da demanda de curto prazo. Assim, o controle dos meios de pagamento deveria ser o cerne da política de defesa da estabilidade dos preços.
O grande líder dessa escola, o economista americano Milton Friedman, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia de 1976. Suas idéias estiveram por trás do choque de juros que Paul Volcker, do Federal Reserve, aplicou em 1979-1980 para enfrentar a inflação de dois dígitos que ameaçava a economia dos EUA.
A estratégia foi bem-sucedida a um custo tolerável para a sociedade americana - a recessão e o desemprego do início dos anos 1980 - mas teve forte impacto negativo nos países em desenvolvimento. Estes, como o Brasil, procuravam passar ao largo da crise do petróleo e preservar suas políticas expansionistas, mediante endividamento externo. O aumento da taxa de juros inviabilizou essa saída. A suspensão dos pagamentos pelo México, em agosto de 1982, detonou a crise da dívida externa, que durou mais de dez anos.
A crise foi a pá de cal no nacional-desenvolvimentismo latino-americano, mas o modelo já fazia água. Ainda que pouco claro para seus defensores, a estrutura de incentivos do modelo prejudicava a alocação de recursos, inibia a inovação e os ganhos de produtividade, e gerava descaso pela educação, afetando os motores do desenvolvimento capitalista e da geração de bem-estar dos tempos atuais.
O monetarismo divergia do keynesianismo, que era o preferido pela parcela da esquerda que se convencera da inviabilidade do comunismo, mas não perdera a fé no papel dominante do Estado e dos gastos públicos no desenvolvimento. Por essas razões, o monetarismo recebeu azedas críticas da esquerda e também dos autodenominados desenvolvimentistas.
Movidas por certa ideologia, era mais fácil para esses grupos criticar o monetarismo do que buscar as verdadeiras causas da redução do ritmo de crescimento.
O monetarismo saiu de cena nos países desenvolvidos diante de novas realidades e da natural evolução da teoria econômica, mas a crítica se manteve na América Latina, com exceção notável do Chile. Nos anos 1990, recorreu-se a outro vocábulo de idêntico conteúdo negativo: neoliberalismo. Recentemente, os críticos da atual política econômica voltaram a descobrir o defunto monetarismo.
Tal como o PT, que se arvorava deter o monopólio da ética na política, os desenvolvimentistas reivindicam para si a exclusividade do bem. É como se somente eles amassem o Brasil. Quem defende o superávit primário, a abertura da economia e o combate ferrenho à inflação estaria contra o progresso do País.
O alvo dos críticos agora é a dupla juro-câmbio, que seria a causa do baixo crescimento econômico. Dizem que se baixar bem o primeiro, o segundo sobe muito e o Brasil cresce tanto quanto o Chile. A impressão é de que para eles ou não existem problemas estruturais ou estes podem ser resolvidos rapidamente com mera vontade política. A inflação parece não fazer parte desse modelo.
Ultimamente, tenho lido e ouvido que tudo é uma questão de perícia. Um ministro da Fazenda competente faria essa mudança sem ninguém sentir.
Óbvio, o Banco Central perderia sua autonomia e seria comandado pelo Planalto e pela Fazenda.
Não duvido da competência de Pedro Malan e Antonio Palocci, os dois ministros da era da estabilidade, mas acho que eles não seguiriam esse receituário, pois conhecem os seus respectivos riscos. Malan e Palocci são figuras de uma nova época, isto é, de um País mais maduro do que no período em que o Estado dava as cartas e liderava o desenvolvimento.
Hoje, vivemos um Brasil mais democrático, mais avançado institucionalmente e mais integrado aos fluxos mundiais de comércio e finanças. Ao que tudo indica, não adotaram o voluntarismo por entenderem que não é perícia que está em falta na área econômica.