Crise faz Jobim antecipar decisão
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, já iniciou o processo de consultas dentro do PMDB sobre a viabilidade de apoio interno e integral a sua candidatura à Presidência da República e informou ao partido que tomará uma decisão no início de dezembro. Semana passada, ele chegou a falar numa data, por volta do dia 5. Embora a direção pemedebista acredite que possa demorar um pouco mais, percebeu em Jobim uma certa necessidade de se definir até mesmo em função da situação dele no Supremo. O ministro, inicialmente disposto a deixar o tribunal, se fosse o caso, em data mais próxima às prévias do PMDB, marcadas para dia 5 de março, começou a admitir a hipótese de sair o quanto antes, em virtude de um certo desconforto que sente entre seus pares com a indefinição e a boataria. Nos últimos dias, Nelson Jobim passou de uma atitude um tanto passiva em relação à possibilidade da candidatura para uma posição de análise das condições objetivas que teria para tornar essa hipótese partidariamente viável. Sua primeira providência será uma conversa com o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que havia anunciado disposição de deixar o cargo na segunda quinzena de janeiro para se inscrever nas prévias e começar a trabalhar para competir com Anthony Garotinho, o único postulante até agora já inscrito nas prévias. Como Jobim quer o máximo de segurança interna de apoio para poder enfrentar o ex-governador do Rio de Janeiro, iria examinar com Rigotto a possibilidade de o governador gaúcho retirar seu nome da disputa. O outro possível postulante, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, já está integrado no projeto Nelson Jobim. O presidente do Supremo não quer partir para uma aventura, mas ponderou na semana passada a dirigentes do partido que também não gostaria de deixar passar a oportunidade se as chances de disputa forem boas. "Tenho de pensar bem porque, mais à frente, não quero me arrepender do que não fiz", disse. E por que Jobim resolveu assumir, neste momento, sua vontade de concorrer se, em tese, poderia fazê-lo mais adiante, como era sua intenção? Primeiro, a velocidade dos fatos reduz os prazos de decisão; em segundo lugar, o registro nas pesquisas da redução do capital de confiabilidade e popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva anima pretendentes à sua sucessão e, terceiro, conta pontos a avaliação de que o PSDB pode não sair tão incólume da crise como se imagina, aumentando a chance de uma candidatura alternativa ao duelo entre petistas e tucanos. Além disso, o PMDB leva em conta a possibilidade de a disputa interna no PSDB se acirrar entre José Serra e Geraldo Alckmin e isso resultar em prejuízos eleitorais para o tucanato. Os pemedebistas trabalham com dados de pesquisas qualitativas que indicariam um potencial de crescimento maior do nome do governador de São Paulo, exatamente em virtude de Alckmin ser menos conhecido nacionalmente do que Serra, até então tido como uma espécie de "candidato natural" dos antigos aliados de Fernando Henrique Cardoso. Na eventualidade de não ser ele o escolhido, isso seria um fator de desagregação da oposição, hoje ainda tacitamente unida em torno de um nome visto como o anti-Lula. Jobim não pediu, nem poderia, garantias eleitorais à direção do partido, mas no jogo interno disse que não pretenderia apresentar seu nome se fosse para ter "dificuldades" nas prévias. Trata-se de um eufemismo para dizer que quer ver a cúpula do PMDB trabalhando por ele para derrotar Garotinho. Embora o presidente do Supremo tenha recebido sinais explícitos das restrições existentes entre dirigentes e governadores ao ex-governador do Rio, não ignora também que os 22% na simulação de segundo turno registrados por ele na última pesquisa CNT-Sensus são resultado de campanha em tempo integral nos últimos meses e representam um patrimônio importante para o PMDB. A direção do partido pode até não acreditar, como não acredita, que Garotinho tenha fôlego para chegar na final, mas também não pretende jogá-lo ao mar sem ter outra possibilidade forte para escorar seu projeto político. Daí também a urgência de Jobim definir logo se quer deixar de ser uma carta de intenções difusas ou se desiste de vez. Âncora Enquanto o presidente do Supremo decide se vai ou não disputar a sucessão de Lula, o PMDB acha prudente fazer algumas gentilezas com Anthony Garotinho. Inscrito há meses nas prévias, ele não pôde contar até hoje com manifestações de apoio do partido. Nos próximos dias alguns dirigentes dirão em público que ele tem, sim, sustentação no PMDB. Com isso, pretendem atender a dois objetivos: o da precaução ante a hipótese de Garotinho acabar vencendo as prévias e o da manutenção de seu ânimo, a fim de que não desista de concorrer às prévias, pois a desistência, na avaliação da ala oposicionista, enfraqueceria a tese da candidatura própria.
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Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, novembro 27, 2005
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