Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 23, 2005

ELIO GASPARI A parentela aparelhada do MEC

O GLOBO


Apolítica petista de parentelas e prebendas está detonando o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. O Inep tem quase 70 anos de trabalho sério, está para a educação como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, para a economia.

Percebe-se o tamanho da detonada ouvindo-se o diálogo de Carlos Henrique Araújo (PT, safra 1996), ex-diretor de avaliação básica do instituto, com o repórter Ricardo Melo:

Araújo: — A sogra do Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, Oroslinda Goulart, é diretora de Tratamento da Informação e Disseminação. (…) O coordenador do centro de informação e biblioteca do Inep, Wilson Pereira, está lá porque é irmão de um político de Brasília, o Geraldo Magela, ex-candidato a governador pelo PT. Na minha diretoria, fui obrigado a engolir uma professora de educação física, Clarice dos Santos, para cuidar do Banco Nacional de Itens.

— Mas por que o senhor aceitou a indicação dela?

— Ela me foi imposta. (…)

O Inep teve quatro presidentes em menos de três anos, mais de um para cada ministro da Educação. Até aí, pode-se acreditar que o irmão de Magela, a sogra de Lindberg e a professora Clarice são escolhas certas. Olhando-se o que o instituto faz, vê-se o custo da parentela.

Está em curso um esbanjamento chamado "Prova Brasil". Onze mil agentes testam cinco milhões de jovens em 43 mil escolas públicas urbanas.

Para quê? Segundo o ministro Fernando Haddad, "cada prefeito, secretário de Educação e diretora de escola receberá um relatório sobre a posição relativa de cada escola, possibilitando corrigir as deficiências". Será? "Corre-se o risco de ter uma massa de dados incrível que não vai ser utilizada", responde Carlos Henrique de Araújo.

Ao custo de algo como R$ 60 milhões o MEC quer avaliar o que já está avaliado. A cada dois anos estudantes das redes de ensino fundamental e médio são testados na prova do Sistema de Avaliação do Ensino Básico. O Saeb se baseia numa amostra de 150 mil alunos. Haddad diz que o "Prova Brasil", sendo universal, enriquece os dados do Saeb.

Pelo menos seis estados já aplicam testes universais aos estudantes de sua rede pública. Entre eles, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. A experiência cearense, apoiada pelo Banco Mundial, é exemplar: a um custo um pouco superior a R$ 3 milhões, no ano passado testaram-se 141 mil estudantes. O teste ensina que o município de Sobral, jóia da coroa do ministro Ciro Gomes, está abaixo da média estadual em todas as avaliações. (Levando-se em conta que desde o século passado cinco gerações de Ferreira Gomes deram seis prefeitos à cidade, inclusive o atual, não se pode atribuir esse infortúnio às políticas de FFHH.)

Nos seis estados que avaliam seus alunos o "Prova Brasil" é uma superposição. O Inep podia avaliar em que país do mundo cerca de 20 milhões de estudantes são submetidos a dois testes semelhantes. A redundância custará cerca de R$ 40 milhões. Parece pouco, mas é dinheiro suficiente para mandar R$ 100 mil para quatrocentas escolas, o que significa deixar tinindo toda a rede rural do Estado do Rio e todas as salas de aula do Acre.

Lula justificou as malfeitorias contábeis de seu partido dizendo que eles fizeram "do ponto de vista eleitoral o que é feito no Brasil sistematicamente". Quem quiser acredite, mas ninguém poderá dizer que já se fez no Inep o que estão fazendo agora.

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