Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 24, 2005

AUGUSTO NUNES O desmentido que confirma

JB



A coluna de terça-feira informou que o deputado federal Átila Lira (PSDB-PI) atendera a uma solicitação do senador Eduardo Azeredo, grão-tucano de Minas Gerais, ao retirar a assinatura do requerimento que prorrogou até abril a CPI dos Correios. Para o ex-presidente do PSDB, não convinha prolongar a drenagem do trecho do pântano identificado pela placa "MG-1998". Na edição de ontem, o desmentido de Azeredo foi reproduzido, na íntegra, na seção de Cartas do Jornal do Brasil.

Limitei-me a confirmar, numa linha, o que dissera. A releitura da carta do senador acaba de alertar-me: a réplica foi ditada pelo tédio, que é irmão do conformismo. É compassiva demais. E não merecem compaixão os envolvidos nos inumeráveis escândalos que vêm espancando a alma do Brasil honesto há tantos meses. O desmentido de Azeredo exige mais que uma resposta curta e entediada. Exige reveladores reparos.

No texto, o senador admite que conversou com Lira sobre a possível prorrogação das atividades da CPI. Mas só com Lira. Mais ninguém. "Não houve conversa a respeito desse assunto com qualquer outro parlamentar, de qualquer partido ou Estado", jura. Entre 513 deputados, dezenas dos quais filiados do PSDB, apenas um dialogou com o senador sobre o tema que monopolizava as atenções do Congresso. É estranho.

Seriam os dois tão amigos assim? Não, esclarecem dezenas de deputados que conhecem ambos. A queda da presidência do PSDB teria condenado Azeredo a cem anos de solidão? Também não, garantem os mesmos informantes: ele mantém ligações cordiais com pencas de correligionários. Mas um único deputado teria sido contemplado pelo recado do senador: "Confirmei a ele que não havia fechamento de questão na bancada do PSDB com relação à prorrogação da CPMI dos Correios", diz a carta publicada pelo JB. O fechamento de questão tornaria obrigatório o apoio dos integrantes da bancada.

A informação transmitida por Azeredo a Lira também é muito estranha. Que bancada tratou do assunto? Se foi a do Senado, isso pouco importava à bancada da Câmara. Os deputados têm vida própria, a bancada elege o líder e os vice-líderes. Por que o senador Azeredo não remeteu o deputado Lira ao gabinete do deputado paulista Alberto Goldman?

Enquanto Minas e o Piauí traçavam atalhos no penhasco, Goldman, líder do PSDB na Câmara, lutava para garantir o mínimo indispensável de 171 assinaturas no requerimento favorável ao adiamento do fim da CPI. Conseguiu exatamente 171. Soube tarde demais que havia um tucano no grupo de 66 deputados que preferiram desertar. Por que não foi alertado por Azeredo sobre a consulta feita por Lira? Porque ao ex-presidente do partido interessava enterrar a perigosa CPI. Porque estava tentando aliciar outros tucanos.

Se vierem mais desmentidos fantasiosos, esta coluna revelará os nomes de outras vítimas do assédio telefônico movido por Eduardo Azeredo.

Jobim conseguiu

Enquanto as togas ameaçavam prolongar a permanência do deputado José Dirceu na UTI do Congresso, costurava-se ontem na Câmara uma ampla frente multipartidária decidida a desafiar o Supremo Tribunal Federal. O bloco vai formalizar na sessão do dia 30 a cassação do mandato de Dirceu. Caso o julgamento seja adiado pelo STF, a cabeça do guilhotinado cairá no colo dos ministros.

Se isso ocorrer, o presidente Nelson Jobim terá produzido uma obra notável: a mais grave crise institucional do Brasil republicano.


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